Wilderness and McLuhan

Wilderness and McLuhan


Semana passada fui ao lançamento do livro “Beyond Wilderness, The Group of Seven, Canada Identity, and Contemporary Art” (McGill University Press, 2008), editado por John O’Brian e Peter White (com quem tive a oportunidade de jantar e conversar depois do lançamento). O belíssimo livro conta a trajetória do Grupo dos 7, que nas primeiras décadas do século XX, pintou as paisagens do Canadá criando tensões entre identidades, representação e dominação da natureza. O livro tem sete capítulos em torno de temas como “What’s canadian in canadian landscape?, Context and Controversy, The Expression of a Difference, Wilderness Myths, Extensions of Technology…


Herbert Marshall McLuhan in his Library

O livro (presenteado por Will Straw) reproduz um artigo de McLuhan de 1967, “Technology and Environment” (publicado originalmente em “arscanada”, n. 105, p. 5-6, February 1967), onde o autor retoma temas chaves do seu pensamento: a complexidade do ambiente midiático, a reconfiguração das mídias, a arte tecnológica.

Ele propõe nesse pequeno e instigante artigo que cada nova tecnologia (de comunicação, mas não só) toma por conteúdo as velhas formas e conteúdos das tecnologias anteriores. Aaqui vemos a conhecida máxima: “o meio é a mensagem”. Ele mostra como a escrita retoma a cultura oral, a imprensa, os livros medievais, o meio industrial, o rural, a cultura POP o ambiente industrial e do consumo modernos. Segundo McLuhan: “(…) every new technology creates an environment that translates the old or preceding technology into an art form, or into something exceedingly noticiable…”(p. 47).

Para além da visão um tanto determinista (crítica corrente a McLuhuan) podemos ver hoje como as mídias digitais têm como conteúdo os formatos midiáticos anteriores, e como o que chamo de funções pós-massivas tentam ir além das funções massivas. No entanto, nossa visão do “ambiente” é sempre turva, impedindo de enxergar o que diferencia o velho do novo ambiente.

“When the electric technology jacketed the machine world, when circuitry took over the wheel, and the circuit went around the old factory, the machine became an art form. Abstract art, for example, is very much a result of the electric age going around the mechanical one”. (p. 47)

Não é à toa que as metáforas que utilizamos para descrever (o que leva sempre a erros e incompreensões do atual ambiente midiático) estão ainda atreladas aos formatos e conteúdos das mídias de massa: tv – web-tv; jornais, jornalismo digital; filmes, web-film, celular filmes; fotografia, fotografia digital; radio, podcast; diários, blogs… Devemos compreender e aceitar a lei mcluhaniana que afirma que os conteúdos presentes nas mídias atuais vêm das mídias anteriores (vários autores mostram isso, como Bolter, Gruzin, Manovich…). Aqui a idéia de reconfiguração deve ser levada em conta. Mas devemos estar atentos para perceber as novidades e as diferenças, já que novas funções e práticas sociais emergem e não se encaixam mais nas formas clássicas de broadcasting e de cultura de massa. Tenho chamado essas funções de pós-massivas, fruto de princípios emergentes da cibercultura: a “liberação da emissão”, a “conexão por diversas redes e sistemas” e a “reconfiguração das mídias, das práticas sociais e das industrias culturais”. Essa funções, junto das funções massivas que não desaparecem, são a base do ambiente comunicacional contemporâneo.