Nomadic Shopping

Nomadic Shopping



Mais um interessante projeto de Esther Polak, Nomadic Shopping, a mesma que realizou o AmsterdamREALTIme a o MILKprojec. Nesse novo projeto, Polak constroi uma fiçcão a partir de “GPS track”, tendo por base o “The Opzeeland Dairy Route”. Para o projeto ela utilizou o “mashup website” VeoGeo.com que combina imagens do GPS tracker, Google Maps/Earth e com vídeos do YouTube. (via Network_Performance). Ao entrarmos no projeto é possível clicar nos “waypoints” e ver o deslocamento com o GPS e um vídeo que conta a história…A imagem é composta de três janelas: o GPS tracking, o vídeo e um gráfico com dados do GPS sobre o deslocamento (imagem abaixo).

GPS writing e outras escritas

Acho interessante a tentativa de ir além do simples traçado de percursos com GPS, criando uma ficção multimídia, escrevendo invisivelmente o espaço urbano, adicionando aí outras ficções, na busca de uma outra narratividade. Nas discussões no Medlab Prado em Madri, o diretor Juan Prada, chamava a atenção para projetos que dessem atenção à imobilidade, e não ao deslocamento. Não é o caso aqui, mas nesse projeto o deslocamento ganha camadas ficcionais que se sobrepõem à escrita invisível do GPS. Com a escrita ficcional, própria da literatura, do cinema, do teatro, da música, da dança, a autora tenta “contar histórias” e não apenas cartografar percursos.

Essa escrita da cidade (e todas, desde os dadaístas, surrealistas, situacionistas até os atuais projetos em locative media) não vai salvar, nem redimir, seja a sociabilidade, a comunicação, o espaço urbano ou a vida nas cidades. Não há razões para crer que a escrita (essa ou qualquer outra) possa nos elevar a algum outro patamar civilizacional. Não há, portanto, razões para otimismo ou utopias. E todos os projetos em locative media devem ser enquadrados nessa perspectiva crítica.

Temos apenas pela frente o tempo que tudo devora, e o espaço abstrato, clamando por lugares e territórios. Nessa confluência espaço-temporal, não nos resta muito, a não ser tentar, já que vivemos, enriquecer um pouco mais a vida quotidiana, combater a solidão, o isolamento e o sofrimento. Escrever não salva, mas ajuda!

Lendo o ótimo “Si ce livre pouvait me rapprocher de toi” (Paris, L’Olivier/Seuil, 1999) de Jean-Paul Dubois (aconselho a leitura também do seu “Une vie française”, de 2004) um dos meus escritores franceses favoritos, o narrator diz:

“Et j’ai découvert que le courage dont on fait preuve pour écrire est celui-là même qui nous fait défault dans l’existence. J’ai découvert que décliner ainsi sa vie ne la rend pas moin miserable, qu’une existence présentable n’a pas besoin d’être mise en scène, que les phrases ne sont jamais qu’une suite de mots complaisants. J’ai découvert que, croyant chaque foi écrire pour quelqu’un, c’est en réalité contre moi que je plaidais” (p. 41).

Escrever não ajuda mas, às vezes, nos salva de nós mesmos.