Maps and Surveillance

Maps and Surveillance

Mapa do Crime em Londres

Vou aproveitar o pretexto do post do Tiago Dória (via email do Fernando Firmino), informando sobre mapa interativo dos crimes em Londres (o usuário coloca o zip code e vê a situação de seu bairro) e no Brasil (WikiCrimes e o Citix), mas há outros como de Chicago, etc., para falar um pouco sobre a história desses mapas de crimes e das “estatísticas morais”. Estou escrevendo sobre isso no meu livro (Mídias Locativas e Processos de Espacialização) e retomo aqui uma pequena parte. Rever a história é importante para não cairmos no cilada da novidade.

Esse tipo de mapeamento não surge agora com mashups e google maps. A diferença está na possibilidade de uma produção bottom-up, no cruzamento de bancos de dados e nas diversas formas de interatividade. No século XVIII, na Europa, mapas com detalhes começam a ser produzidos para vigiar e monitorar o espaço, principalmente pelas empresas de seguro, e em Londres. Como afirma Short, “one the most comprehensive and detailed urban mappings during the 18th century was undertaken by insurance companies, which needed accurate maps to determine the likelihood of city fires and calculate the level of insurance premium to be paid by the residents.” (“The World Through Maps. A history of Cartography”, John R. Short, Firefly Books, Toronto, 2003, p. 151). Claro, o que acontece hoje não é nada mais do que o desenvolvimento histórico desses mapas, e não é de hoje a febre por vigilância e monitoramento em Londres, Paris, Boston… O primeiro foi em Paris em 1829.


Mapa de Guerry e Balbi de 1829
, cruzando crime (contra a pessoa e a propriedade) e o nível educacional.

No século XIX, nos EUA, surgem mapas estatísticos revelando uma radiografia social. O primeiro foi o “Statistical Atlas”, de Francis Walker, de 1874, com 44 mapas com dados sobre imigração, etnia, religião, tendências econômicas, densidade populacional: “Walker was writing at the same time when social science, social control, and social surveillance were all emerging as important new discourses of a nation experiencing rapid urbanization and large-scale immigration.” (p. 164). Esses atlas não apenas representam cartograficamente as nações, eles as justificam, as legitimam e servem como instrumento de poder.

Mapas de doenças, de crimes começam a ser produzidos no século XIX e crescem no século XX. Esses mapas revelam “moral estatictics”, termo criado pelo estatístico francês André-Michel Guerry em 1833. Essas estatísticas morais apontam para os “levels of crime and poverty, among other social phenomena. Crime maps first appeared in France in 1829 when Balbi and Guerry used data from 1825 to 1827 to plot, for each of the departments in the country, the incidence of crime in relation to ‘educational instruction'(…)” (p. 194). Hoje, como afirma Short, “geografic profiling” é uma tendência, mostrando aspectos psicologicos e perfis que são usados para criar e reforçar leis. Trata-se de assumir, como afirma Short, que o perfil de crimes e de criminosos são “place specific”.