L’anne drenire Marienbad
Personagens com sombras…e as rvores?
Revi essa semana o filme L’Anne dernire Marienbad, de Alain Resnai, 1961 e meu sentimento foi completamente diferente da ltima vez. Como estou pesquisando as mdias locativas e as novas funes sociais e comunicacionais dos lugares nos espaos urbanos, meu olhar foi completamente tomado por essa problemtica.
Sem revisar a bibliografia j escrita sobre o filme (no sei se o que estou dizendo uma obviedade ou no), acho que o filme sobre a (in)comunicabilidade e a busca de um sentido no espao e no tempo, ou seja a busca por um lugar no mundo. O hotel onde se desenvolve o filme um castelo luxuoso, onde ouvimos dilogos circulares, dilogos em off descolados de quem fala na cena, e os trs personagens centrais se misturam entre outros que esto ou em movimento, ou congelados, como se o tempo no passasse ou fosse um outro espao-tempo. H indcios de que o filme (roterizado por Alain Robbe-Grillet) tenha se inspirado no livro “A Inveno de Moru” de Bioi Casares (vejam post sobre o livro).
No fundo esse espao-tempo, que o hotel, transforma-se em um grande tabuleiro labirntico (todos os outros hspedes esto sempre jogando, sendo o jogo, aparentemente, a nica forma de sociabilidade). Como em todo labirinto, todos os lugares so iguais (e por isso nos perdemos), o que significa que o labirinto/hotel um “no-lugar”, ou seja um espao homogneo fora do tempo e do espao (no h nenhuma preciso sobre espao e tempo, e mesmo as cenas no deixam ao espectador muita informao sobre suas cronologias). Mais ainda, esse hotel/labirinto tambm marcado por controles e signos (“no perturbar”, “silncio”…) que refora ainda mais a funo de “no-lugar” como postei recentemente.
Trechos do filme…
Os personagens no tm nomes e o enredo gira em torno de um homem que insiste em ter conhecido uma mulher algum tempo atrs, em algum lugar (tempo e espao imprecisos). As cenas e falas giram em torno do labirntico hotel e da tentativa do homem fazer a mulher lembrar do suposto ltimo encontro…O filme refora a idia de um espao circular e homogneo (sem sentido) do labirinto, a narrativa repetitiva (mtica) e a impossibilidade de ouvir o outro, a incomunicabilidade. Marienbad apenas sugerido como lugar do suposto encontro mas nada certo (link para uma cidade na Repblica Checa).
A mulher suporta toda a ambigidade do filme (os gestos pequenos e robotizados, os passos lentos, o olhar perdido e sem foco, fazem parecer um ser de outro mundo) e parece no se lembrar de nada, embora no seja l muito convincente. Ela se contradiz frequentemente, principalmente quando pede a ele para esperar um ano para novo encontro (ela diz: “ce n’est pas long un an”. Ele diz “non, pour moi ce n’est rien”). Os personagens aparecem sempre no hotel, com quadros de com perspectivas de um jardim ou de tabuleiros, sempre invocando o labirinto. Essa justaposio de imagem colocam, ao mesmo tempo, os personagens no hotel e nas imagens. O efeito visual funciona e as imagens parecem fundirem-se intercalando posies nesse grande jogo!
O desencontro entre falas, personagens, a perdio nos corredores todos iguais e a falta de sentido na movimentao do hotel indicam que o filme , na realidade, uma discusso sobre o espao vazio das relaes sociais, sobre a busca por um sentido que criaria nesse “no-lugar”, uma MEMRIA (problema central do casal) que resgatasse ou produzisse algum sentido sobre esse tempo e espao. Isso fundaria um lugar.
Clip do Blur em homenagem ao filme
E como no sou um cinfilo, me identifico com Robbe-Grillet (que morreu em fevereiro desse ano):
Se vc puder ler a revista Mente & Crebro, de abril, vai encontrar uma histria como esta no especial sobre MEMORIA.
Obrigado Alessandra!