Here and There

Here and There

Interessantes projetos tensionando a nossa vivência no espaço urbano, questionando o nosso lugar no mundo seja através de paisagens sonoras e narrativas, seja através de viagens deslocadas no tempo e no espaço. Todos os projetos utilizam mídias locativas (basicamente aqui mapas, mp3 players e celulares), para registrar locais e suas paisagens sonoras. O interessante é que as experiências com as novas tecnologias se dão no uso do espaço urbano e requer do usuário uma imersão nesses lugares.

Vou citar nesse post 3 projetos que trazem esta dimensão locativa e de certa forma, um estranhamento. Podemos ver aqui potencialidades para que as tecnologias móveis desempenhem efetivamente “funções pós-massivas”. Sugiro que voces não fiquem apenas no meu post e que visitem os sites citados pois há toda uma imersão visual e sonora muito interessante que não reproduzo aqui.

Primeiro gostaria de destacar o “You Are Not Here“. Este projeto desloca o usuário do seu lugar criando um estranhamento espaço-temporal. Ao andar por uma cidade, a experiência coloca o usuário navegando por meio de mapas, virtualmente, em outra cidade. “You are not here” produz assim deslocamento e localização ao mesmo tempo (daí a sensação de estranhamento). Por exemplo, o usuário pode visitar virtualmente a Faixa de Gaza, passeando por Tel Aviv, ou Bagdá através das ruas de NY. Isso é possível através de mapas e telefones celulares. Veja o site e o vídeo para melhor compreensão da experiência.

“You Are Not Here.org is an urban tourism mash-up. It takes place in the streets of one city and invites participants to become meta-tourists of another city. Download a map, take your phone with you and go tour Gaza through the streets of Tel Aviv or Baghdad through the streets of New York.”

Vejam o vídeo abaixo.

Na mesma “vibe”, gostaria de destacar mais dois projetos que ressaltam a paisagem sonora das cidades e as narrativas aí acopladas por qualquer pessoa. Aqui a dimensão locativa se dá pela navegação sonora do espaço e pela audição de histórias contadas por pessoas comuns sobre determinados lugares da cidade. O primeiro é o projeto Soundwalk que, como escreve Mark Kramer no Smart Mobs,

“could go beyond it’s commercial purpose and become a form of “Aural Augmented Reality” for mobile learning. I can imagine how the Soundwalk could be used as a learning experience set in the real world using the cityscape as a backdrop for a ?ction, like in a movie. (…) ‘Soundwalk is part of the o?cial programming of Nuit Blanche 2009, an international arts festival taking place in Paris on October 3. For this occasion, Soundwalk is launching an exclusive iPhone application that will be free to the public for one night only. In addition, all ?ve Paris Soundwalks, narrated by ?ve French actresses, will be free to download in their MP3 versions for Nuit Blanche'”

O segundo projeto que destaca a paisagem sonora e as narrativas é o canadense Hear about Here, afiliado ao projeto MurMur, já bastante resenhado nesse Carnet. O Hear about Here destaca a paisagem sonora e as histórias contadas por pessoas sobre a área central de Toronto e St. John. Ao se deslocar pela região, om passante pode-se ligar para um código afixado em um signal ([Here]Say) nas ruas e ouvir as histórias. Pode-se ouvir as histórias também pela Web, mas o melhor mesmo é a experiência locativa vivenciando ao mesmo tempo o lugar e a história contada sobre ele.

Vejam detalhes.

“[HERE]SAY WATER STREET- [murmur] St. John’s a story cartography. St. John’s is a landscape not only of streets and buildings, but of human experience — this is what makes up the unique character of our city. The place is full of stories. Where most maps offer you a satellite view or a graphic layout of the street grid, ours is a story map. [HERE]SAY features personal stories set in specific locations in the Downtown. Take a walk on Water and look for the [HERE]SAY signs on the light poles. You’ll see a phone number and a 3-digit code. Dial the number on your mobile phone, punch in the code, and hear a story about the spot where you’re standing. If you can’t get to Water Street, choose a location on the web map and listen online.”

Sintéticamente podemos dizer que em todos os projetos vemos uma interessante valorização da experiência locativa e concreta, por intermédio das novas tecnologias móveis, acoplada às novas possibilidades de produção de informação de baixo para cima. Não se trata daquela posição de consumo que estamos acostumados a adotar quando nos deslocamos pelo espaço urbano. Há aqui potência efetivamente pós-massiva que pode trazer um novo engajamento com o espaço de lugar (através do espaço de fluxo e do casamento dessas duas dimensões nos atuais “territórios informacionais”). Os usuários dos espaço públicos das grandes metrópoles podem agora lutar contra a anomia, produzir informação (por meio de fotos, vídeos, áudio e textos), compartilha-las e colaborar na contrução de novas histórias. Abre-se assim, quem sabe, as vias para a criação de “novos sentidos dos lugares”.