Durao, Parte 3

Durao, Parte 3

Fechando a trilogia sobre o tempo e a durao, deixo mais uma citao literria, agora de William Faulkner em “Palmeiras Selvagens”. Nesse excerto podemos sentir a irrealidade do tempo ou a sua iluso, reforando a nfase na durao. Aqui, fazendo eco e acrescentando elementos ao que foi colocado nos outros posts sobre esse tema, aparece a nossa existncia como passagens infinitas e microtemporias entre um passado, presente e futuro amalgamado naquilo que “ era e ser”. Vejam as primeiras partes da trilogia da durao aqui e aqui.

Vejam o que diz Faulkner:

“Eu estava fora do tempo. Ainda estava ligado a ele, apoiado por ele no espao como se est desde quando havia um no-voc para se tornar voc e se estar at que haja um fim para o no-voc, graas exclusivamente ao qual voc pde existir um dia – essa a imortalidade -, apoiado por ele mas tudo, apenas nele, no condutivo, como o pardal isolado, pelos prprios ps duros e no condutivos e mortos, do fio de alta tenso, a corrente do tempo que corre pelo ato de lembrar, que existe apenas em relao ao pouco de realidade (aprendi isso tambm) que conhecemos, ou ento no existe essa coisa que chamamos tempo. Voc sabe: Eu no era. Ento eu sou, e o tempo comea, retroativo, era e ser. Ento eu era e portanto no sou e assim o tempo nunca existiu. (…) aquela condio, fato, que na verdade no existe exceto no instante em que voc sabe que a est perdendo (…) a solido, voc sabe. Voc precisa saltar em completa solido e pode suportar apenas este tanto de solido e ainda viver, como a eletricidade. E por esses um ou dois segundos voc estar absolutamente s: no antes de voc ser e no depois de no ser, porque nessas horas voc nunca est sozinho; em qualquer dos casos voc est seguro e acompanhado num anonimato infindo e inextricvel: num, do p para o p; no outro, dos vermes fervilhantes para os vermes fervilhantes. (…) ” (W. Faulkner, Palmeiras Selvagens, p. 123, Cosac&naif, 2003)