Data dark places

Data Dark Places

Interessante artigo do The Guardian sobre o uso mais underground da internet, endereços obscuros, de difícil acesso, usado por criminosos, pedófilos ou usuários comuns ou de países totalitários que querem se manter anônimos. Vale a pena a leitura na íntegra do long texto. Aqui quero apenas destacar como podemos interpretar esse mundo invisível (apenas 0,03% da web é acessível em máquinas de busca como Google ou Kosmix) e estima-se que há 500 vezes mais websites do que vemos atualmente. Nesse universo desconhecido e verdadeiramente underground, podemos ver uma verdadeira paisagem de dados, submersos, obscuros, não-lugares de dados no real sentido da palavra (inclusive com endereços perdidos que não são mais usados). No entanto, esses “não-lugares” estão sendo territorializados como uma paisagem de dados que pode ser reapropriada, ressignificada, não necessariamente para ações bem intencionadas. Essa paisagem de dados é vista como um lugar a ser tomado, reutilizado para diversos usos, inclusive criminosos, como, por exemplo, as ações do RBN, Russian Business Network, organização criminosa que ocupa e faz desses espaços um “novo lugar” do crime.


Principado de Sealand. Photograph: Kim Gilmour/Alamy, no The Guardian
Empresa americana HavenCo construiu aqui um paraíso de dados!

Sobre Sealand e HavenCo:

“HavenCo announced that it would store any data unless it concerned terrorism or child pornography, on servers built into the hollow legs of Sealand as they extended beneath the waves. A better metaphor for the hidden depths of the internet was hard to imagine.(…) In 2007 the highly successful Swedish filesharing website The Pirate Bay – the downloading of music and films for free being another booming darknet enterprise – announced its intention to buy Sealand. The plan has come to nothing so far, and last year it was reported that HavenCo had ceased operation, but in truth the need for physical data havens is probably diminishing. Services such as Tor and Freenet perform the same function electronically; and in a sense, even the ‘open’ internet, as online privacy-seekers sometimes slightly contemptuously refer to it, has increasingly become a place for concealment: people posting and blogging under pseudonyms, people walling off their online lives from prying eyes on social networking websites.”

Vejam o que afirma Andy Beckett, autor do artigo The Dark Side of the Internet do The Guardian sobre o RBN e os “data dark places”:

“The RBN also rents temporary websites to other criminals for online identity theft, child pornography and releasing computer viruses. The internet has been infamous for such activities for decades; what has been less understood until recently was how the increasingly complex geography of the internet has aided them. ‘In 2000 dark and murky address space was a bit of a novelty,’ says Labovitz. ‘This is now an entrenched part of the daily life of the internet.’ Defunct online companies; technical errors and failures; disputes between internet service providers; abandoned addresses once used by the US military in the earliest days of the internet – all these have left the online landscape scattered with derelict or forgotten properties, perfect for illicit exploitation, sometimes for only a few seconds before they are returned to disuse. How easy is it to take over a dark address? ‘I don’t think my mother could do it,’ says Labovitz. ‘But it just takes a PC and a connection. The internet has been largely built on trust.’ “

A matéria cita ainda os softwares como Freenet e Tor. Sobre o Freenet o autor afirma:

“Child pornography does exist on Freenet,’ says Clarke. ‘But it exists all over the web, in the post… At Freenet we could establish a virus to destroy any child pornography on Freenet – we could implement that technically. But then whoever has the key [to that filtering software] becomes a target. Suddenly we’d start getting served copyright notices; anything suspect on Freenet, we’d get pressure to shut it down. To modify Freenet would be the end of Freenet.”

Há todo um debate sobre privacidade e a evolução das máquinas de busca que pode tornar visível mais informações e dados pessoais, criando problemas de exibição, as vezes sem conhecimento ou consentimento do indivíduo. Isso me leva ao post de ontem do Rue 89 onde juristas e ativistas franceses pregam o “esquecimento” dos dados como forma de garantir a proteção da vida privada. Vejam alguns trechos da matéria Le droit à l’oubli numérique, un casse-tête juridique:

“Il n’est pas facile de se faire oublier sur le Net. Exemple: un adolescent laisse un commentaire grossier sur un blog. Quelques années plus tard, il cherche un emploi, et un employeur auquel il a envoyé son CV a l’idée de ‘googler’ son nom et tombe dessus. Autre exemple: un homme sort de prison, parvient à retrouver une vie normale ; mais son passé reste affiché aux yeux de tous sur divers sites…Internet, dit-on, est un média ‘de flux’ ; c’est oublier que c’est aussi un média de stock : à la différence des archives des journaux, les informations sur Internet restent visibles de façon permanente, comme gravées dans le marbre. Et peuvent empoisonner la vie de nombreuses personnes. D’où l’idée d’instaurer un ‘droit à l’oubli numérique’. Une belle idée dont la mise en application est un effroyable casse-tête. Pour tenter de le résoudre, deux sénateurs, Yves Détraigne (MoDem) et Anne-Marie Escoffier (PRG), ont déposé au Sénat une proposition de loi. De son côté, Nathalie Kosciusco-Morizet, sécrétaire d’Etat chargée de la Prospection et du Développement de l’économie numérique, lui consacre un atelier de travail, demain, dans un amphithéâtre de Sciences-Po Paris.”

Concluindo, a matéria do The Guardian aponta para o desbravamento desse território informacional, para a busca desses lugares escondidos:

“It seems likely that the internet will remain in its Gold Rush phase for some time yet. And in the crevices and corners of its slightly thrown-together structures, darknets and other private online environments will continue to flourish. They can be inspiring places to spend time in, full of dissidents and eccentrics and the internet’s original freewheeling spirit. But a darknet is not always somewhere for the squeamish.”

Busquei aqui apenas destacar, rapidamente, um aspecto interessante para pensar o local, o território, o controle ou a falta dele trazidos à tona pelo debate sobre os “lugares” perdidos nos recôndidos do ciberespaço. Como pudemos ver aqui, há formas de espacialização eletrônica que não se dão no espaço físico, que não são visíveis no espaço urbano e muito menos através das máquinas de busca. Trata-se de uma paisagem escondida e inacessível para os comuns dos internautas, mas que cresce vertiginosamente desde 2000. Territórios informacionais, esses lugares obscuros de dados são constituídos para garantir, para o melhor ou o pior, a liberdade no uso da rede.

One Reply to “Data dark places”

  1. Os negócios da HeavenCo não duraram muito tempo em Sealand. Uns dizem que faliu, outros que o gênio do Principe Roy não era fácil de domar e o negócio naufragou pouco a pouco…

    O Pirate Bay pensou em alugar o espaço mas a idéia foi abandonada pela localização difícil e outros problemas menores…

    MAs, de fato, Sealand é um Estado. Não reconhecido mas pela Convenção de montevidéu tem sim muita validade e é de facto independente tendo inclusive ganho batalhas legais no Reino Unido.

    No mais, não sei se recordas mas conversamos na ABCiber sobre Micronacionalismo e fiquei de te enviar meu TCC/Iniciação sobre o assunto. Já enviei ha algum tempo!=)

    abraços!
    @tsavkko
    tsavkko.blogspot.com

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