Cultura Digital e Transformações do Mundo Contemporâneo – ABERJE 2013.

Na semana passada fiz a conferência magna de encerramento do 7º Congresso de Comunicação Empresarial Aberje, no Rio de Janeiro, sob o tema “Confiança e engajamento no centro da estratégia comunicativa”. A minha conferência foi sobre “Cultura Digital, As transformações do mundo contemporâneo”. Abaixo um trecho da conferência (em breve coloco todo o texto que passar por revisões):

“O objetivo da conferência é apontar as principais mudanças sociais, políticas e culturais a partir do desenvolvimento e expansão das redes sociotécnicas digitais. Vamos discutir como novas mediações levam a reconfigurações importantes na cultura contemporânea. Há potência e risco envolvidos. Indo além de uma perspectiva essencialista dos objetos técnicos, vamos investigar, pela ótica da Teoria Ator-Rede, como as mídias e redes sociais atuam nas diversas organizações (públicas ou privadas). Estamos em uma era de rápidas e profundas transformações. As mudanças (novas mediações) trazem arranjos (novas associações) que merecem ser investigados para uma melhor compreensão das transformações do mundo contemporâneo.

PRINCIPAIS MUDANÇAS COM A CULTURA DIGITAL

Para compreender as principais mudanças na cultura contemporânea com o advento da cultura digital devemos tentar encontrar princípios que as norteiam. As mudanças estão em toda parte.

Pensem nas coisas de que você, ou sua organização dependem ou se associam frequentemente. Pensem nessa relação como os seus territórios e vejam como eles se expandiram com as atuais mudanças nas últimas décadas. Pensar nos territórios é pensar em fronteiras de dependências. Pensem nos seus antepassados, ou nas organizações da era industrial ou pré-industrial…pensem nos seus descendentes… As territorialidades se expandiram e se expandirão no futuro. Olhem os objetos a sua volta e pensem de onde eles veem, como são produzidos, mantidos e distribuídos… É isso a globalização.

Mas o que quero colocar logo no início da minha fala é que toda mudança deve ser vista a partir de uma dimensão política, do comum, que traz a baila aquilo que nos concerne pelas nossas associações e criação de territórios. Como posso comer um atum vermelho se ele está em extinção e eu sou parte de sua lógica, mesmo que ele seja “produzido” por empresas japonesas e pescado a milhares de quilômetros de mim. Ele faz parte do meu território…até o momento em que me associo a ele.

As revoluções da cultura digital são importantes, pois ampliam esses territórios, ampliam as influências localizadas a partir de múltiplos pontos de dispersão. Essas mudanças criam novas formas de associação, novos territórios, uma nova sociedade e cultura. Há extensão das associações. Toda cultura é transformação e ampliação de formas de associação e de territorialização e desterritorialização. Devemos então pensar sobre a qualidade da coisa a qual nós nos associamos hoje, seja enquanto indivíduo, seja enquanto empresas (rede sociotécnica mais ou mesmo estabilizada).

O ritmo das mudanças e o problema mais premente (o da sustentabilidade do planeta) exigem de nós uma consciência mais ampla da nossa relação com as diversas redes sociotécnicas (cada objeto é uma rede sociotécnica – o carro é um objeto, mas é uma rede ambulante, o mesmo podemos dizer do computador, do telefone celular, do sujeito ou de uma organização). Ou seja, o desafio das transformações atuais é passarmos, como afirma o sociólogo francês Bruno Latour, do objeto (atômico, individualizado, reduzido a sua realidade), à coisa (a mônada, ao que nos concerne, ao que nos coloca em causa), dos “matters of facts” aos “matters of concern”.

O problema não é tanto a existência dos objetos, mas as formas que nos relacionamentos com eles: podemos e devemos usar carros, smartphones, notebooks, redes sociais …mas qual a minha relação com esses “objetos”? Como constituo meu território? Posso colocar fotos de comidas e da minha tia no facebook ou posso organizar manifestações de rua. A questão das transformações da cultura contemporânea, que tem na rede a sua figura mais importante, como destacarei a seguir, nos remete a essa pergunta: Como me associo às coisas e as pessoas? Precisamos pensar nas associações e menos nas supostas substâncias e vou tentar mostrar isso hoje já que a cultura digital traz novos e ampliados processos de territorialização. (…)”