Na semana passada fiz a conferncia magna de encerramento do 7 Congresso de Comunicao Empresarial Aberje, no Rio de Janeiro, sob o tema Confiana e engajamento no centro da estratgia comunicativa. A minha conferncia foi sobre “Cultura Digital, As transformaes do mundo contemporneo”. Abaixo um trecho da conferncia (em breve coloco todo o texto que passar por revises):
“O objetivo da conferncia apontar as principais mudanas sociais, polticas e culturais a partir do desenvolvimento e expanso das redes sociotcnicas digitais. Vamos discutir como novas mediaes levam a reconfiguraes importantes na cultura contempornea. H potncia e risco envolvidos. Indo alm de uma perspectiva essencialista dos objetos tcnicos, vamos investigar, pela tica da Teoria Ator-Rede, como as mdias e redes sociais atuam nas diversas organizaes (pblicas ou privadas). Estamos em uma era de rpidas e profundas transformaes. As mudanas (novas mediaes) trazem arranjos (novas associaes) que merecem ser investigados para uma melhor compreenso das transformaes do mundo contemporneo.
PRINCIPAIS MUDANAS COM A CULTURA DIGITAL
Para compreender as principais mudanas na cultura contempornea com o advento da cultura digital devemos tentar encontrar princpios que as norteiam. As mudanas esto em toda parte.
Pensem nas coisas de que voc, ou sua organizao dependem ou se associam frequentemente. Pensem nessa relao como os seus territrios e vejam como eles se expandiram com as atuais mudanas nas ltimas dcadas. Pensar nos territrios pensar em fronteiras de dependncias. Pensem nos seus antepassados, ou nas organizaes da era industrial ou pr-industrial…pensem nos seus descendentes… As territorialidades se expandiram e se expandiro no futuro. Olhem os objetos a sua volta e pensem de onde eles veem, como so produzidos, mantidos e distribudos… isso a globalizao.
Mas o que quero colocar logo no incio da minha fala que toda mudana deve ser vista a partir de uma dimenso poltica, do comum, que traz a baila aquilo que nos concerne pelas nossas associaes e criao de territrios. Como posso comer um atum vermelho se ele est em extino e eu sou parte de sua lgica, mesmo que ele seja produzido por empresas japonesas e pescado a milhares de quilmetros de mim. Ele faz parte do meu territrio…at o momento em que me associo a ele.
As revolues da cultura digital so importantes, pois ampliam esses territrios, ampliam as influncias localizadas a partir de mltiplos pontos de disperso. Essas mudanas criam novas formas de associao, novos territrios, uma nova sociedade e cultura. H extenso das associaes. Toda cultura transformao e ampliao de formas de associao e de territorializao e desterritorializao. Devemos ento pensar sobre a qualidade da coisa a qual ns nos associamos hoje, seja enquanto indivduo, seja enquanto empresas (rede sociotcnica mais ou mesmo estabilizada).
O ritmo das mudanas e o problema mais premente (o da sustentabilidade do planeta) exigem de ns uma conscincia mais ampla da nossa relao com as diversas redes sociotcnicas (cada objeto uma rede sociotcnica – o carro um objeto, mas uma rede ambulante, o mesmo podemos dizer do computador, do telefone celular, do sujeito ou de uma organizao). Ou seja, o desafio das transformaes atuais passarmos, como afirma o socilogo francs Bruno Latour, do objeto (atmico, individualizado, reduzido a sua realidade), coisa (a mnada, ao que nos concerne, ao que nos coloca em causa), dos “matters of facts” aos “matters of concern”.
O problema no tanto a existncia dos objetos, mas as formas que nos relacionamentos com eles: podemos e devemos usar carros, smartphones, notebooks, redes sociais …mas qual a minha relao com esses objetos? Como constituo meu territrio? Posso colocar fotos de comidas e da minha tia no facebook ou posso organizar manifestaes de rua. A questo das transformaes da cultura contempornea, que tem na rede a sua figura mais importante, como destacarei a seguir, nos remete a essa pergunta: Como me associo s coisas e as pessoas? Precisamos pensar nas associaes e menos nas supostas substncias e vou tentar mostrar isso hoje j que a cultura digital traz novos e ampliados processos de territorializao. (…)”