Depois de dois dias de corre-corre atrás de exames, documentos e autorizações, me interno em um hospital na quinta, na sexta faço uma pequena cirurgia (nada de grave, mais quand même!) e hoje, me recuperando bem, arrisco essas linhas.

Nada melhor do que ler e poder escrever para espantar o medo e o tédio do hospital. Música também ajuda bastante (ouço agora a trilha sonora do filme Amélie Poulain) e a televisão preenche momentos de vazio e anima, ainda mais se tem jogo de futebol da seleção pra ver. Bom, fazer o quê?

Tô na mãos com três livros, um eu não abri ainda (o novo do Eco). Com os outros dois fico transitando entre a poesia e a prosa. A poesia de T.S. Eliot, poeta da fragmentação, muito apropriada para esses momentos de extirpação. Leio a sua recém lançada “Obra Completa” pela Arx. Em prosa leio Tonino Benacquista, em seu “Quelqu’un d’autre” (Folio, Paris, 2002), história de dois homens entrando nos 40 que, após se conhecerem numa partida de tênis, apostam que, dali a três anos eles seriam outros: não um outro, mas eles mesmos, aquele que eles nunca puderam ser nesses 40 anos de existência. Quem ganhar a aposta pode pedir o que quiser ao outro. Vamos ver no que vai dar. Leitura também muito apropriada para momentos de reflexão e mudanças no corpo.

Vou deixar aqui para você dois excertos:

“Plus il y aura de gens qui s’exprimeront, qui peindront, que écriront et qui feront des ronds dans l’eau, et plus nous aurons les moyens de lutter contre l’apocalypse programmé” (Benacquista, p. 40).

Os Homens Ocos (T.S. Eliot)

“Entre a idéia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a sombra

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a sombra

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a sombra

Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não como uma explosão, mas como um gemido.”