Temporary Informational Spaces

Temporary Informational Spaces



SPOTS media facade is a temporary projects by Realities (Photo by Bernd Hiepe)

Usamos sempre temporariamente o espaço urbano: transitando de carro ou em transportes públicos, usando banheiros públicos, sentando no banco de uma praça, flanando nas ruas, passeando em shoppings… O nosso uso temporário remete sempre para a mobilidade: ele é temporário justamente porque passamos pelo espaço, e não ficamos (permanentemente) nele. Aliás, a prática de ficar muito tempo em um espaço público (dormir nos bancos das praças ou sentar no chão de um shopping center por exemplo), ou seja, de ocuparmos o espaço e de não “circularmos”, é frequentemente reprimida pelos “poderes públicos”.

O conceito de “uso” tem duas dimensões importantes que podemos explorar aqui. Uso é, obviamente, utilizar, gastar. Mas usar implica também em um direito, o usufruto. Essa prática se define na relação social já que o uso passa a ser uma função em relação ao espaço ou a uma coisa. No interessante livro “Temporary Urban Spaces“(Hayden, Florian, Temel, Robert. ed., Basel, Birkhäuser 2006) – que apresenta inúmeros projetos de uso temporário do espaço público – podemos tirar essa definição:

“Uses is, in any case, not a quality that is inscribed in things, buildings or spaces but rather social relationship in the triangle of property, possession and right to use. In that sense, use is a more or less flexible relationship within which people can make various uses of one and the same thing or, expressed more generally, can relate to this thing in different ways – and thus pursue different interests” (p. 26-27)

Hoje em plena era das redes e dos fluxos planetários de informações, as pessoas transitam cada vez mais: viajam, trabalham em lugares diferentes, visitam lugares como turistas…e mesmo a casa que é pensada como uma “morada”, permanente, é, na maioria dos caso, um “abrigo”, temporário (aluguel, flats, lofts…). Como diz o personagem de Mia Couto em O Ultimo Voo do Flamingo: “eu tinha abrigo, não uma morada”. Cada vez mais, com os fluxos constantes e crescente de pessoas, commodities e informações, a cidade é abrigo e não morada, ela é fluxo e não permanência. Daí a necessidade de pensar o vínculo comunitário, a opinião pública, o espaço público, o público, o lugar…

No entanto, os espaços e lugares são pensados (por urbanistas, arquitetos, engenheiros) para serem permanentes: casas, praças, prédios, monumentos, escolas, fábricas, shoppings, todos estão onde estão para ficar e para sempre. A cidade moderna localiza as coisas e estabiliza os movimentos de coisas e pessoas pelo plano diretor e pelas leis de uso e de circulação. Na realidade, romper com essas leis (territorialização e estriamento do espaço para usar termos deleuzianos) era o desejo dos situacionistas: fazer com que os objetos urbanos circulassem, que as obras saíssem dos museus e fossem para os bares e cafés (uma desterritorialização dos museus), que os livros saíssem das estantes das bibliotecas e fossem para as ruas, que o andar escrevesse novas histórias para além dos pontos turísticos e dos mapas oficiais. Em suma, visavam criar movimento e temporalização dos espaços em sua permanência mortal.



Matrix Reload Flash Mob

Um espaço urbano temporário pode ser definido como um espaço fixo dando “abrigo”, e não morada, a um outro uso, não programado e, muitas vezes, ilegal (artistas usando praças para servir de dormitório, reuniões de protesto, flash mobs, graffiti, performances, carnaval, etc.). Trata-se, no uso temporário, de uma refuncionalização dos espaço para o uso “aqui e agora e não mais depois”. Isso define o uso o temporário e cria um lugar também temporário, no espaço urbano. Por exemplo o evento Mediafacades Festival 2008 propõe um uso temporário do espaço usando as novas tecnologias como uso das fachadas dos prédios.


TAG is a multi-user mobile game

As tecnologias da mobilidade criam, ao meu ver, alguns lugares temporários onde os usos “padrões” da nossa ação (temporária) nos mesmos se transformam: as “flash mobs” (ações instantâneas visando criar um “hierofania” no banal quotidiano), os “mobile street games” (usando, como outrora, a rua para jogo), as “smart mobs” (manifestações político-ativistas usando celulares e disseminação SMS para criar agregação e dispersão) e as “locative mobile art” (como as anotações eletrônicas de diversos tipos – GPS drawning, sensores e mapeamento).


Sonic City, electronic urban sound

Podemos dizer que as tecnologias digitais móveis de acesso a informação digital produzem novas formas de uso do espaço, ou seja, novos sentidos dos lugares, colocando em evidência o fluxo que caracteriza as cidades contemporâneas.



Protest against President Estrada., Philippines: BBC (2000)

A criação de uma zona de intersecção entre o fluxo eletrônico informacional e o espaço físico (o território informacional) cria, para além dos usos temporários convencionais (acessar internet em um cibercafé, usar um hotspot público, falar, enviar textos, fotografar ou se localizar por um telefone celular), usos temporários “táticos”, não habituais, do espaço. Esses territórios criam, para dizer de forma direta, lugares. Mais do que a emergência de “não-lugares”, de um “no sense of place”, ou do “apagamento do espaço”, o que estamos vendo são processos complexos de criação de sistemas de “localiz-ação” pelo uso temporário (estratégico e tático) dos espaços públicos com as tecnologias móveis.