Sócrates

Sócrates jogava para frente, indo para trás com seu mágico calcanhar.
Quando todos achavam que ele ia para lá, ele voltava para cá.
A bola lá embaixo e o corpo como um espigão, ereto, lá no alto.
Cabeça erguida, olho atento, bola colada no pé, jogava andando como em um desfile.
Catwalk on the wild side.

Era jogador, terra dos incultos, e médico.
Era soldado e general, líder da democracia alvinegra.
Jogava sempre ligado, mas não queria concentração.
Era da esquerda mas, quando precisava, 
Chutava com as duas.

Como um Deus, era desmedido,
Na desmesura, ergueu a cabeça e mostrou as fraquezas.
Forte, empinou o peito mais uma vez, 
Olhou para o alto, para a torcida,
E viu a luz dos refletores.

Arrancou do meio de campo, 
Leve, bola colada no pé direito.
De repente, travou a chuteira, sorriu, 
Deu de calcanhar,
E se foi.

Sócrates, 19/02/1954 – 04/12/2011