Filtros-Bolha – Os novos portais!

Há anos, incomodado pela onda de novos Portais que invadiam a internet e susbtituiam os “sites“, escrevi em Porto Alegre, na época de uma Compós e em meio a discussões de um GT, um manifesto cujo título era “Morte aos Portais“. À época, me pareceia que a liberdade de “flanar” pela internet estava sendo ameaçada pelos portais que diziam aos usuários (e criavam estratégias técnicas e mercadológicas para que eles não saíssem de seus domínios): “fiquem aqui, aqui tem tudo, não se percam na malhas da rede”. Isso foi em 2000. Passava-se o bastão (como diz Pariser, no vídeo abaixo) dos gatekeepers da mídia de massa para os portais. Agora, um agente não-humano muito mais poderoso toma a frente: os algoritmos. Caberia aqui (mas não será agora) uma interessante análise sobre os filtros-bolha a partir da teoria ator-rede (vejam que Pariser fala mesmo de uma ética dos algoritmos).

Agora, as coisas pioraram muito. Os atuais filtros-bolha online nas máquinas de busca (Google, em especial), nos sites jornalísticos e nos sites de redes sociais (Facebook, notadamente), invisíveis, são muito mais efetivos e silenciosos na criação de uma opacidade e mesmo de uma total invisibilidade das informações. “Você não decide o que entra e você não vê o que fica de fora”, diz Pariser, definindo os filtros-bolha – a bolha informacional onde você está, sendo filtrado os dados que te chegam a partir dos diversos serviços online que você utiliza (Google, Yahoo, NYT, Facebook…). Você terá grandes dificuldades para encontrar algo que não esteja procurando. Os serviços já sabem o que é ou não bom para você. Adeus serendipity!!!.

Como criticava no meu manifesto de 2000, as possibilidades de ampliar o mundo se reduzem. É empobrecedor encontramos sempre os iguais, ou sempre aquilo que procuramos. A heterogeneidade, a diferença, a surpresa e o desconhecido são elementos fundamentais para o crescimento do conhecimento e do fazer político. Ora, com esses filtros-bolha, as possibilidades de achar o que não procuramos reduz-se drasticamente. É o preço, caríssimo, que se paga pela personalização da informação. Vejam o vídeo abaixo (via Palacios e Claudio Cardoso por email e GITS) com Eli Pariser, para ter uma noção do problema. Claro, o imponderável está sempre aí, e se estivermos atentos e dispostos poderemos sempre driblar os algoritmos. Veja aqui, por exemplo, dez coisas que você pode fazer para contornar o problema. Mas está ficando cada vez mais difícil…

Acredito que futuro da internet se joga agora na garantia do anonimato, da privacidade, no estouro desses filtros-bolha e na garantia da manutenção da neutralidade da rede em nível planetário.


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