SBECE

space-time-1351612136_b

 

Participei na semana passada do 5o. Seminrio Nacional de Estudos Culturais e Educao e o 2o. Seminrio Internacional de Estudos Culturais e Educao como keynote speaker em Porto Alegre. Falei sobre as contingncias do espao-tempo pela teoria ator-rede. A conferncia ser publicada no livro do evento. Deixo aqui um pequeno trecho final.

[quote]

A alternncia abrupta entre micro e macro, ator e sistema, no assim uma caracterstica essencial do social, mas uma forma de encarar as associaes criadas por uma determinada sociologia. Como vimos, a noo de escala uma iluso. O interessante poder olhar a circulao de actantes por entre essas instncias sem congelar a anlise. Se o analista decide de antemo em que escala vai trabalhar, fixando-se no macro, no contexto ou na estrutura, de um lado, ou nas interaes, na particularidade e no micro de outro, o movimento e os rastros do social se perdem para sempre.

Espao e o tempo esto ligados ideia de movimento, de processo. Essa viso uma das heranas do filsofo Michel Serres que desconfia das grande categorias analticas de tempo e de espao. Reforando a ideia de um espao-rede, Serres e Latour mostram que tudo se d no movimento e nas relaes. Espao e tempo so, para Latour consequncia das formas nas quais os corpos se relacionam com outros (Latour 1997a:174). Como afirma Latour:

“Gods, angels, spheres, doves, plants, steam engines, are not in space and do not age in time. On the contrary, spaces and times are traced by reversible or irreversible displacements of many types of mobiles. They are generated by the movements of mobiles, they do not frame these movements. (Latour, 1988, p. 25, apud Bingham e Thrift, 2003, p. 289)”

Assim a afirmao do incio dessa conferncia pode ser confirmada: espao e tempo definem-se pela relao. O espao como relao entre as coisas e o tempo com a mudana nos objetos a partir de sua relao com outros objetos. Eles so mesmo contingentes, j que aparecem aqui e desaparecem acol como uma rede que se faz e se desfaz nas associaes. Nesse sentido, espao e tempo no so categorias abstratas, nem aquilo que contm todas as coisas, nem a sequncia dos segundos que passam no relgio. Eles so, para Bingham e Thrift, o produto da transformao e no os recipientes para a transmisso. Espaos e tempos so resultados da combinao e recombinao de um mundo inteiro.

”Times, like spaces, are, therefore, folded into complex geometries and topologies by series of connections and disconnections. There is no one time or space, rather there are a number of co-existing space-times. (MURDOCH, 1998, P. 360)”

Assim, spaces and times proliferate (Latour, apud BINGHAM e THRIFT, 2003, p. 289) e podemos mesmo dizer que seria mais correto falar no de espao e tempo, mas de timing e spacing. (BINGHAM e THRIFT, 2003, p. 290). Trata-se, como dissemos no incio, de ver o movimento as associaes e no o espao abstrato, de olhar o que se forma na relao entre as coisas. No como pensam os fsicos que tomam a consequncia como causa quando afirmam que corpos podem ocupar qualquer lugar no espao. O espao justamente o que vai sendo criado pelo movimentos entre coisas, lugares e corpos, e no o que espera, como uma ddiva, pela sua ocupao. Ele contingente, incerto e eventual, j que se fazendo no fluxo das associaes: timing e spacing. O espao e o tempo so consequncias e no causa ou reservatrio dos arranjos dos corpos. Como diz magistralmente Michel Serres:

“My body [for example] lives in as many spaces as the society, the group or the collectivity have formed: the Euclidean house, the street and its network, the open and closed garden, the church or the enclosed spaces of the sacred, the school and its spatial varieties containing fixed points, and the complex ensemble of flow-charts, those of language, of the factory, of the family, of the political party and so forth. (Serres, 1982, p. 45, apud BINGHAM e THRIFT, 2003, p. 289-290)”

[/quote]