Paisagens e Mapas no GPS?
Essa matéria é do elmundo.es e faz um link com o post anterior, mostrando o desnevolvimento de “paisagens urbanas”(melhor seria dizer imagens funcionais do espaço urbano?) em GPS, através da inclusão de mapas mais intuitivos como o Google Maps /Earth.
“En Japón, desde hace años, los GPS de gama alta muestran representaciones tridimensionales de las ciudades con las fachadas de los edificios bien claritas. Las empresas de mapas ya trabajan para hacer lo mismo con las ciudades europeas y será el próximo gran salto tecnológico de los navegadores GPS y los servicios de mapas online…”
Passa a ser interessante, no contexto das tecnologias móveis, explorar a relação entre mapas, croquis, territórios e paisagens. Falei das paisagens no post anterior. Vamos falar um pouco sobre territórios, mapas e croquis.
Poderíamos pensar que o que estamos chamando de “território informacional” pode ser visto como uma relação entre um “território oficial” informacional (as áreas de conexão, suas regras, os custos e senhas de acesso…), mas também como um “território diferencial”, a partir do uso que se faz dessa informação no espaço urbano. Na cidade, os usos sociais são formas de marcar territórios. Seriam, para usar um termo caro a Deleuze e Guattari, formas moleculares dentro de um território molar (com as categorias e fronteiras bem delimitadas). Os usos sociais marcariam assim novas territorialidades ou “territórios-devir” (como fazem os skatistas, o grafiteiro, o parkourista, o ciclista, ou o simples transeunte e seus caminhos construídos nas margens das calçadas oficiais…), nos insterstícios dos territórios molares constituídos. Ou seja, teríamos um território oficial com suas leis e regras (o molar) projetado pelas instituições, e um outro, molecular que, como afirma Armando Silva, “consiste numa marca territorial usada e inventada na medida em que o cidadão o nomeia ou inscreve. Haverá muitas combinações entre um pólo e outro…” (Silva, Armando, Imaginários Urbanos, SP. Perspectiva, 2001., p. 21).
Os mapas e croquis são formas de representação de territórios. Estamos vendo uma crescente popularização, não apenas de formas de visualização, mas de construção de mapas e croquis com as novas ferramentas da Web 2.0 e os dispositivos móveis como celulares, palms e GPS. O mapa é uma representação funcional, institucional, feita por técnicos e peritos, de um determinado espaço territorial. Ele compõe, por assim dizer, uma “cartografia física”. Já os croquis, como rabiscos e rascunhos simbólicos de inscrição sobre o espaço cartografado de forma oficial, são territorializações e cartografias simbólicas, fruto de formas subjetivas de apropriação e de uso dos espaços urbanos. Assim, podemos pensar que, como afirma Silva, “o território não é mapa, mas croqui. O croqui vive a contingência da sua própria história social” (p. 24). Para ser preciso, diria que o território é mapa e croqui. No entanto, são os processos de criação de croquis, a partir das ferramentas da Web 2.0 e dos dispositivos móveis, que nos interessam. São eles que abrem para formas sociais de leitura e escrita não oficial do espaço urbano.
As diversas formas de localização e mapeamanto com as mídias locativas podem criar apropriações territoriais diferenciais tendo por base uma cartografia física oficial. Essa formas podem sobrepor camadas de cartografias diferenciais – por croquis ou mapeamentos psicogeográficos (como tenho apontado em diversos projetos aqui nesse Carnet) às camadas dos mapas e cartografias oficiais. Nesse sentido, os usos vão configurando territorialidades diferenciais dentros das territorialidades oficiais (que os mapas e cartografias oficiais mostram com precisão técnica), pondo em evidência croquis que expressam um cartografia simbólicas desses territórios em toda a sua complexidade.
No caso do exemplo acima, dos GPS com mapas interativos, trata-se, evidentemente, apenas de localização (mapeamento oficial de territórios oficiais). Artistas e ativistas têm tentado, no entanto, criar usos em que esses dispositivos podem ser utilizados para a criação de croquis e de apropriação do espaço por territorializações diferenciais.