Medialab-Prado Madrid – Digital Networks and Physical Space
06/02
A sessão de comunicação de ontem, dia 06/02 começou com a apresentação “SPIP GIS” de Horacio González Diéguez que mostrou os aspectos técnicos do projeto Escoitar (http://www.escoitar.org/), um projeto participativo com áudio localizados em mapas na região da Galícia. Os usuários podem fazer upload de sons e indexá-los a localidades. O projeto aponta para o futuro em sindicar mapas (SPIP/GIS), assim como é feito como sites e blogs. Toda a filosofia do projeto é baseado nos software livres. Eles utilizam dois plugins: SPIP GIS (software livre para publicação) e Google Map API. Não há controle do que é colocado nem do que é baixado do projeto. Problemas serão resolvidos a posteriori. As pessoas se registram para publicar. Os aspectos técnico são interessantes e perguntei sobre o conteúdo. Diégiez me disse que o projeto visa mostrar formas de anotação localizada de sons tentando ressaltar histórias e o imaginário dessa região da Espanha.
O segundo paper apresentado, “Fronteras y territorio en el ciberespacio. Principios métricos para la independencia geolocal en el web” de Jesús Moreno Hidalgo mostra processos de territorialização a partir de análises quantitativas de websites. O enfoque é em cibermetria e busca relações ocultas entre ciberespaço e territórios físicos. A análise destaca a dependência e independência dos sites em relação ao local, utilizando categorias como Geocita (dados no site que fazem referência a um território físico específico), Geocita local (identifica o lugar físico de onde se produz o site) e Geocita externa (referências externas ao lugar de onde se produz o site). Foram analisados 44 sites com mais de 73 milhões de páginas. Segundo a análise os sites de maior independência local, os mais globalizados são YouTube, Delicious, Flickr, Twitter, Technorati, Digg, Internet Archive, Open Directory, Jaiku…
No entanto, a maioria dos sites analisados mantêm dependência territorial física. Como conclusão pode-se dizer que a maioria dos sites tem alto apego aos territórios físicos e a globalização seria mais suposta do que real. Essa é mais uma forma de mostrar movimentos de territorialização.
A terceira comunicação, “La Geoweb en el entorno audiovisual del siglo XX: el Geoscope y el Earthscore Notational System” de Paz Sastre Domínguez buscou recuperar a discussão histórica sobre o audiovisual, mostrando a relação entre espaço físico, mídias analógicas, tecnologias móveis e representação imagética do planeta. Citou alguns projetos que antecipam o Google Earth como Geoscope de Buckminster Fuller, 1962; Earthscore de Paul Ryan, 1971 e os atuais Twitter Vision, Flickr Vision, Youtube Vision, Earthscope.com. Tentou fazer uma arqueologia das mídias. Afirmou que para compreender a cultura computacional contemporânea é importante que se leve em conta a história do audiovisual e das representações.
Por fim tivemos a excelente lecture de Juan Martín Prada, diretor do Medialab Prado, sobre “Net(punto)Geo: La emergencia de la web geoespacial”. Prada fez um apanhado geral do que foi discutido nessas sessões de comunicações mostrando muita lucidez e conhecimento do assunto. Ele retomou a discussão sobre espaço, lugar e território (citou em três momentos a minha conferência) insistindo em que a rede sempre se concebeu como território, ligado ao espaço real e não é à toa que usamos denominações como sítio, domínio, direção, subir, baixar, visão, navegação, todos termos espaciais. Mostrou como a ligação ao territorio é obvia, e como as formas de controle se agudizam hoje nos sistemas políticos: todos são espaciais, formas de controle entre fronteiras, demarcando vários territórios.
Analisou as práticas da locative art retomando Burroughs (“I am acting as a map maker…”) e mostrou como a nova imaginação espacial é definidoras das poéticas da rede, dependentes de estruturas espaciais. Mais uma vez, o lugar não se dissolve nos fluxos mas transforma-se. Retomou o conceito que utilizei de Motility, que remete a potência do movimento. Mostrou como novos sistemas e dispositivos estão incorporando funções locativas como padrão (GPS em celulares, câmeras com geotag das fotos, etc…) todos reforçando a confluência temporal e espacial que ele chama de “calendariedad e cardinalidad”. As ferramentas vão se especializando, buscando esse vinculo com o territorio e o local. Fez referência também às comunidades que se formam em torno das novas cartografias e apontou para a necessidade de desenvolver ferramentas open standard como OGC, Opengeodata , Open map, Openstreet map, cGPSMapper, Geonames, Geocommons, etc.
Resgatou formas de anotação eletrônica dos lugares, que ele chamou de prática de “anotação do planeta”. Mostrou relações com o que chamei em artigo recentemente de mídias locativas analógicas, exibindo imagens de placas nas ruas, marcos pré-históriocos (manir), flores colocadas por familiares estradas e ruas para lembrar os mortos em acidentes, marcas urbanas, nos solos e nas paredes das cidades, etc.
Chamou a atenção para a evolução da “web 2.0 local”, com sistemas de anotações e informações que criam e reforçam uma memória localizada, como “Neighbornode” e outras comunidades que utilizam mapas produzindo informações (sentido) de baixo para cima. Citou também as redes ad hoc que permitem formas de sociabilidade em áreas próximas, redes locais como o jornalismo hiperlocal, blogs localizado (“place blogs”) como “Outside.in, Place blog, Platial, Peuplade”, etc. Para Prada, a emergência de redes de mobilização em microblogs, flash mobs, smart mobs remetem a uma mobilização concreta de proximidade (citou a comunidade Twittok, de “twiteros” em Tóquio). Ou seja. reforçou a tese de criação de novos sentidos dos lugares, de reforço do uso e da apropriação dos espaços urbano. Afirmou que as vinculações territoriais são inerentes às mídias locativas. Definiu “locative medi”a como “a representação e a experiência do lugar por interfaces digitais”
No campo da arte, retomou historicamente as formas de relação criativa com o espaço físico citando Venturi e sua hiperarquitetura, os situacionistas, dadaístas, a psicogeografia, a deriva, a vagabundagem, o trajeto, o flâneur, todas dormas de “arte do andar” contra as mobilidades forçadas da racionalização dos espaço (projetos fundadores de Richard Long, 1967, Vito Acconti, 68 e mais atuais de Reverberant e Teri Rued, entre outros).
Finalizano, clamou para que se preste atenção à relação entre a dimensão espacial e a identidade, aos processos espaciais de subjetivação, ou seja, a nossa posição no espaço, dos nossos corpos e da relação com os outros corpos e os espaços das cidades. Deve-se buscar estratégias de ruptura das continuidades, romper com a monotonia, a discontinuidade e fragmentação. Criticou algumas formas artísticas com mídias locativas por insistirem muito nos movimento. Ele acha que é o momento de pensar menos nos deslocamentos e mais nos momento de quietude.
O evento foi excelente e hoje continuam discussões pontuais sobre os projetos em andamento.