Mapa de Crimes
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O uso de mapas e a produção de conteúdo livre associado têm sido duas das principais características das mídias locativas. Mapas são meios de comunicação potentes hoje e, na mesma tendência das mídias contemporâneas, eles têm passado de mídias de função massiva (produzido por poucos e consumido por muito) para mídias de função pós-massiva (produzido por muitos e consumidos por nichos). Os mapas são mídias por possuírem mensagem, meio, emissor e receptor e, como toda mídia, é produzido com distroções, geográficas e ideológicas. O mesmo se dá hoje com a produção de mapas digitais com conteúdo localizado e colaborativo. Essa produção não é nova, muito pelo contrário (mapas tem sido desde sempre produzidos por pessoas desconhecidas e com conteúdos diversos indexados), mas a diferença está na facilidade de produção e de criação dos mais diversos conteúdos pelas tecnologias da web 2.0. Como já colocamos aqui nesse Carnet, há hoje uma produção inédita de mapas e conteúdos localizados. Aqui fica sempre duas questões: 1. eles não representam a realidade, mas a produzem e 2. eles não são neutros, mas ideológicos revelando estados da sociedade e dos poderes em jogo. Como escrevi em outro post: “Mapear é produzir uma representação do mundo, uma construção ideológica, e isso desde os grandes impérios do passado (Roma, Portugal, Espanha, Grã-Bretanha) até hoje com os “impérios” das tecnologias informacionais. Embora ampliando e democratizando as formas de produção de mapas e conteúdos localizados, sistemas como o Google Maps/Earth/View não são neutros e estão a mercê dos poderes constituídos (vejam post sobre evento em Madrid onde comento palestra de Julian Oliver sobre esse tema). Além disso, os sistemas, embora gratuitos, não são de código aberto e um API do Google Maps que usamos hoje livremente pode ser requerido no futuro pela empresa….”
Mapa de Vigilância no Mundo da Privacy International
No caso de mapas de crimes, essas duas questões se revelam críticas; 1. ele nao reflete a realidade (dos crimes da violência, ou da segurança) e 2. ele produz uma ideologia própria do atual regime de vigilância (fé na técnica, falsa segurança, sentimento de medo distribuído, supervalorização da observação, prescrição do futuro). Parace haver aqui uma ilusão de que a produção do conteúdo colaborativo e a vigilância de todos garantiriam alguma segurança no futuro (já produzido portanto enquanto catástrofe iminente).
Nesse sentido, post do Dispositivos de Visibilidade e Subjetividade Contemporânea informa sobre uma “mapa de crimes e de vigilância colaborativa” no Brasil, o WikiCrimes. O site segue alguns exemplos como o “familywatchdog“, “chicagocrime.org” ou o “oakland crimespotting“, indicado no post. Como destacamos acima, é interessante a produção aberta de mapas e conteúdos indexados (funções pós-massivas das novas mídias), mas temos que levar em conta, como em toda mídia, as duas questões arroladas para saber ler (recepção) o conteúdo (mensagem) desses tipo de suporte (mapas): 1. eles não reproduzem o real (aberto, cristalino e “apenas aí” esperando para que o leiamos com as novas ferramentas 2.0), mas o produzem e; 2, eles estão longe de serem neutros, refletindo ideologias e a atual paranóia do medo e da vigilância pós 9/11. Vemos aqui a crença, por um lado, nos dispositivos técnicos para resolver problemas não técnicos, e por outro, na mobilização social que ao se expressar, resolveria os problemas. Como afirma o post “…esse gênero de mapa propõe uma associação, no mínimo questionável, entre cidadania e vigilância, passando pelo impulso colaborativo. Além disso, fomenta a idéia de que todos estarão mais seguros ao serem informados sobre os locais mais perigosos das cidades, enquanto se sabe que, ao contrário, é toda uma cultura do medo e da insegurança que aí prolifera.”. Sobre vigilância vejam um dos meus post e outros do “Dispositivos de Visibilidade…”.