Internet TV

Tem sido cada vez maior o número de artistas tentando novos formatos estéticos com os celulares (fotos, vídeos, m-blogs…). Há vários festivais sobre “pockets films” ou arte eletrônica móvel como o Pockt Filme de Paris ou os brasileiros arte.mov e MobileFest.

O que estamos vendo é uma reconfiguração da indústria cultural. Trata-se mesmo de um processo de reconfiguração da linguagem televisiva, sem significar a morte dos programas de televisão. A remissão da TV à rede e dispositivos móveis e vice-versa, mostra essa reconfiguração da comunicação midiática contemporânea (que chamei em outro artigo de terceiro princípio da cibercultura, ao lado da liberação da emissão e da conexão generalizada). Agora processos massivos e pós-massivos convivem. Para uma discussão mais aprofundada sobre esses temas, estarei colocando aqui nos próximos dias dois últimos artigos.

A convergência está fazendo com que a TV incorpore cada vez mais esses dispositivos de comunicação móvel, não só na sua prática de produção como também na forma de veiculação das emissões. Vem aí a TV no celular (3 e 3,5G), mas o que parece estar crescendo é o celular na TV, acompanhando o movimento mundial de popularização desses aparelhos. Nesse mesmo espírito, coloquei em outro post um exemplo de uso do celular pelo jornalista Pedro Markun na cobertura da FLIP desse ano, embora não tenha sido para a TV.

Vários programas de TV têm utilizado essa convergência com webcams, blogs, chats, fóruns, websites, podcasts… Não é uma novidade o uso da internet na TV brasileira. A grande rede tem sido explorada há algum tempo desde o fim dos anos 1990 (lembrem-se do videogame “os delírios de Hugo”, ou dos programa onde debates em chats comentavam clips ou as atuais emissões que complementam sua programação “enviando” o telespectador para os respectivos websites). Vejamos alguns atuais

O programa Pânico na TV, da Rede TV, coloca sempre dois participantes no palco, ao vivo, via webcam. Eles são as “cabeças monitores” que aparecem na imagem e que interagem com o apresentador. A MTV, que mudou de estratégia e não passa mais clipes, tem no Overdrive (e no site de apoio) o maior exemplo dessa convergência. Ainda na mesma emissora temos o seriado Gordo Viaja (em oito capítulos) em que o apresentador João Gordo mostrará o que filmou com seu celular em viagens por quatro continentes. Para mais detalhes veja aqui matéria do Terra Magazine.

No canal fechado Multishow temos dois programa que usam as NTs (fóruns, webcams, chats, websites) nas suas emissões. O programa Urbano e a série Retrato Celular. O Urbano é um programa sobre jovens das metrópoles que usa sistemas de chats ao vivo e de webconferências. Aqui é a internet que entra em cena. Já o Retrato Celular de Andrucha Waddington (Conspiração Filmes), série em 8 episódios, é feito com o celular revelando auto-retratos de jovens de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte. O programa vai estrear dia 04 de setembro. A música é do Gilberto Gil. Vejam depoimento dele em matéria do Globo.com:

RIO – “Em meio a toda essa excitação com as novas tecnologias, os brinquedos novos, os devaneios contemporâneos, eu disse ao Andrucha (Waddington, o diretor) que ele deveria radicalizar um pouco mais a experimentação no campo do cinema digital. Logo em seguida, bolei o Banda Larga. Ele então pensou num filme digital, ainda no modelo da autoralidade, digamos, convencional, e, logo depois, foi mais além e propôs ao Multishow um programa com relatos pessoais, pós-autorais ou trans-autorais, individuais, de pessoas que fariam relatos audiovisuais de fragmentos de suas vidas, usando os celulares como equipamento de registro. O projeto-programa se chama ‘Retrato celular’ e ele me pediu que fizesse uma canção tema. ‘Olho mágico’ é o nome dessa canção tema, que tenta partir do voyeurismo tipo ‘Big brother’, necessariamente implícito, para chegar a uma espécie de ‘colônia de nudismo existencial’ já mais aberta, compartilhada, mais telefônica, em que não estamos só em nossas casas vendo e ouvindo relatos selecionados para nos representarem à distância. Mas nos aproximamos um pouco mais. Ou seja, algo assim como se pudéssemos estabelecer uma diferença, ainda que tênue, sutil, entre o que vem pela TV e o que vem pelo celular. E tudo isso ainda na TV, como se ela própria já precisasse experimentar, para além de suas fronteiras, no campo da interatividade de nova geração, tipo Web 2.0 ou coisa do gênero. São todos esses exercícios muito novos que requerem despojamento e aventura. Andrucha gosta disso e eu também. E parece que o Multishow quer pagar para ver até onde se pode chegar, como sugere a letra da canção, que foi enviada, sim, pelo celular. Mandei via Youtube, daqui da Europa para o Andrucha, no Rio”.

Segundo outra matéria do Globo.com, o produtor da série 24h também fará uma série com o celular para os usuários da companhia de telefonia celular, a Amp’d Mobile.”Paranormal News” será um seriado investigativo que mergulha fundo em aparições misteriosas, estudos da Nasa, análises meteorológicas e vídeos digitais.”

Vamos acompanhando esse processo.