Big Brother Bairro

Big Brother Bairro

E a campanha eleitoral para prefeito está esquentando aqui. Destaco o projeto “Big Brother Bairro” de ACM Neto, Neto como é chamado agora, que está vestindo a camisa da modernidade e juventude e, em seu programa, propõe a criação de uma Secretaria de Combate a Violência e um projeto de vigilância eletrônica por câmeras nos bairros mais perigosos. O projeto tem o infeliz nome de “Big Brother Bairro” (será que ele não leu o livro nem viu o filme para entender a dimensão autoritária e opressora desse nome? Ou acha que Big Brother é apenas um reality show da Globo?) que vai vigiar, com câmeras móveis, os moradores dessas localidades (mais pobres, negros, com pouca escolaridade e que serão alvo dos olhares sempre desconfiados e curiosos).

Pode-se ler no site do candidato:

“Secretaria de Prevenção à Violência. No governo de ACM Neto, segurança pública será prioridade da prefeitura de Salvador. Será criada a Secretaria de Prevenção à Violência, que vai coordenar todas as ações de repressão e prevenção à violência. A secretaria irá trabalhar de forma articulada com as polícias Civil e Militar e com os governos estadual e federal.

Big Brother Bairro. Sistema de vídeo-monitoramento com câmeras móveis que serão colocadas nos pontos mais violentos da cidade. Elas serão monitoradas por uma moderna central com computadores que irão acionar a polícia e os guardas municipais, que serão chamados de agentes comunitários de segurança e atuarão armados, quando o crime for flagrado.”

O programa tem impacto e muitos acham que essa é mesmo a solução para a escalada de violência em Salvador, mas é só ilusão (como sabemos o buraco é bem mais embaixo). Além do mais, experiências em várias cidades do mundo, inclusive Londres, a mais vigiada de todas, mostram que não há nenhuma evidência de que essas câmeras estejam ajudando a impedir crimes ou a localizar os criminosos. Como escrevi em outro post, artigo de Bruce Schneider no The Guardian, mostra que as pervasivas câmeras de vigilância têm pouca efetividade (resolvendo alguns crimes aqui e ali), representando um enorme gasto para as coletividades e podendo servir para bisbiblhotar a vida alheia, criar vídeos “best videos”, ou espionar políticos e mais ainda, criar uma sensação de medo e paranóia. “(…) This fact has been demonstrated again and again: by a comprehensive study for the Home Office in 2005, by several studies in the US, and again with new data announced last month by New Scotland Yard. They actually solve very few crimes, and their deterrent effect is minimal.(…)”.

O efeito é mínimo. Mais uma vez vende-se, em nome do determinismo tecnológico e ilusão da visão do outro, um panóptico eletrônico ineficaz, caro, que coloca todos no regime amplo da insegurança e da desconfiança, além do voyerismo e da invasão de privacidade. Por fim, como afirma Mirelle Rosello, coloca todos sob o regime do “sujeito inseguro”.

Lamentável!