Leituras…

Há muito tempo que não falo de leituras aqui. Nesses últimos meses li alguns livros que podem ser de interesse para os (poucos) leitores desse Carnet. Não vou falar de livros acadêmicos, mas de literatura: ficção, romances e novelas. No fundo isso é que importa, a literatura, o resto é o resto… ;-))

Acabei recentemente “Uma Margem Distante”, de Caryl Phillips, ganhador do prêmio Commonwealth de 2004. O livro tem uma narrativa que prende o leitor pelos detalhes e pela atmosfera construída. A história é cheia de “flashbacks” mostrando o cruzamento da vida de um imigrante africano e de uma musicista inglesa, doente e reclusa em uma pequena cidade da Inglaterra. As duas histórias se cruzam nessa pequena cidade e doença e racismo constituem essa “margem distante”. Foi uma grata surpresa e um nome a lembrar. O livro foi publicado pela Record em 2006.

Li também, mas não gostei muito, do livro da francesa Céline Curiol, “Voz sem saída”, sobre um relacionamento impossível e sempre incompleto entre a narradora em um namorado de uma amiga. A narradora nos envolve nessa impossibilidade mas a história e a força narrativa se perdem ao longo da obra. Foi publicado pela Nova Fronteira.

Um dos melhores que li esse ano é “A luz do dia” de Graham Swift, pela Cia das Letras (2006). Escrita direta e telegráfica sem abrir mão da profundidade, o autor inglês conta um dia em Londres de uma caçada de um detetive particular a um homem acusado de adultério pela mulher que o contrata. A história gira em torno da suposta traição, da relação entre a mulher e o detetive, da amante imigrante e de um assassinato. Muito bom e muito melhor, na minha opinião, do que o bom ‘Últimos pedidos” do mesmo autor.

Recomendo fortemente o excelente “A marca humana” de Philip Roth (Cia das Letras, 2000) sobre um professor universitário negro, que se esconde como branco em sua confusa cor de pele, acusado de racismo e assédio. Ao sair da universidade ele perde a mulher logo depois e se relaciona com um escritor, vizinho, narrador da história. O livro mostra os meandros da sociedade americana atual com frieza e perspicácia. Muito bom como todos do Philip Roth.

O que mais me tocou nessas últimas leituras foi a novela “A fera da selva” de Henry James, pela Rocco, 1997. O livro é sobre uma relação que depois de anos vai se reestruturar, e se desmanchar, a partir de um segredo compartilhado e não lembrado por uma das partes…Na relação reconstruída depois de muitos anos, aparecem perguntas sem respostas, situação confusas e obscuras. No entanto, tudo se resolve no fim…Muito bom, curto e direto como um soco no estômago…li em duas horas…

Por último, também devorado em algumas horas, Sêneca, em “Sobre a brevidade da vida” (LP&M, 2006), para colocar um pouco de estoicismo na vida e pensar no tempo que perdemos com coisas inúteis mas trabalhosas…Não é romance, mas cartas escritas pelo filósofo que falam sobre a importância da vida vivida em sua plenitude, mesmo com toda a dureza, rigor e disciplina dos estóicos…

E vamos adiante já que não temos tempo a perder…a não ser com o ócio criativo!