Saí do Facebook. A rede e a rua

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Detalhe na Revista Muito

Segue meu texto na Revista Muito de hoje no Jornal A Tarde.

“Saí do Facebook!”
A rede e a rua.

André Lemos
Professor Associado da Faculdade de Comunicação da UFBA. Pesquisador 1 do CNPq.

1. As mudanças de escala que assistimos na televisão no início das manifestações mostraram o contraste entre a visão do alto, com milhares de pessoas, e as cenas de violência, no chão, bem de perto. Tanto a beleza do macro, como o terror do micro foram efeitos de inscrição das imagens em dispositivos midiáticos. As escalas nunca são naturais. As mudanças na perspectiva são sempre ficções. É importante entender esse deslocamento ótico como produção. Fenômenos coletivos e individualizados são sempre fruto de instrumentos de inscrição.

2. Aos manifestantes não se pode cobrar um projeto político bem articulado, como se essa fosse uma condição para a demonstração de insatisfação. Não é! Reduzir os anseios dos que protestam a ingenuidade política ou romantismo é de uma extrema violência. É “política de sofá”.

3. A crise de representatividade está no cerne das manifestações. Ela é fruto do descompasso entre crescimento econômico e a incapacidade dos governantes em oferecer serviços essenciais de qualidade; dos privilégios de governantes e políticos; da corrupção e do descaso para com a coisa pública; e da falência dos partidos políticos.

4. As redes sociais servem para fazer circular tudo, desde informações do dia-a-dia, até aquilo que governos tentam esconder, ou que a mídia não informa por interesses. Os slogans das ruas são os mesmos encontrados no Twitter ou Facebook. Não há separação entre a rede e a rua. Uma potencializa a outra. É o que acontece no Brasil (e no Egito, na Tunísia, na Espanha, no Occupy ou no “Desocupa” baiano). A frase em cartazes, “Saí do Facebook”, não nega a internet. Antes, a afirma: usem o “Face”, mas venham para as ruas.

E eles estão indo, sem partido, sem ideologias, sem líderes (89% das pessoas não se sentem representados por partidos políticos e 96% não são a eles filiados). Sem as redes sociais os atuais movimentos não teriam essa extensão, ou não ocorreriam (78% dos participantes se organizaram por elas).

Mas os políticos não compreendem o fenômeno. Eles são lentos e pensam a internet como uma promessa utópica, ou ameaça distópica, como o “virtual” fora do “real”, como playground de alienados. Estão enganados. No Brasil, a participação dos governantes nas redes sociais é pífia. Eles deveriam dar atenção à mídias sociais, ao Big Data e criar iniciativas de governança eletrônica consistentes.

Definitivamente não podemos mais pensar em democracia sem a internet. Falamos disso desde meados dos anos 1990. Agora é preciso implantar, junto a mecanismos de democracia representativa, iniciativas de democracia direta e participativa que estejam sintonizados com as ferramentas da grande rede.