Desesperadamente, na curvatura do tempo, brincando de deus, o avião rasga a atmosfera e desprega-se da gravidade, vaga pelo espaço em busca de novos horizontes, da perdição, da liberdade sideral. Mas, preso como por um elástico, não consegue a deriva total, não consegue se desvencilhar do peso gravitacional de todas as vidas sentadas nas poltronas, tensas, tentando relaxar naquelas horas de impossibilidade total de movimentos…Tentando fugir pelo rasgo na curva do planeta, não consegue sair do círculo do tempo trágico do dia a dia, do continum espaço e tempo que só faz sentido aqui…convenção que constrói o real. Ele vai e volta, vai e volta e, redimindo-se de sua bravura, aceita o peso e o perigo da deriva, retorna à curva do espaço e do tempo, contorna o espaço sideral e aceita margear de novo a curvatura do planeta…Agora, todo comportado, compreende a insurreição e a inércia, aceita o destino e volta a planar suave e tranqüilo sobre o espaço azul e branco de nuvens sobre o solo. Pousa sem barulho, sem choques… mas pousa, não voa mais.