Deve sair no Correio Brasiliense nesse prximo fim de semana…sobre o ataque ao WTC e a mdia
WORLD TRADE COMMUNICATION
Os ataques aos EUA apontam para um novo marco na histria do mundo Ocidental, para uma nova reorganizao do poder e da geopoltica mundial. No sabemos ainda at onde esta constatao pode nos levar: terceira guerra mundial? resoluo de problemas crnicos como o embargo Cuba, a guerra entre Palestinos e Israelenses, a poluio do planeta, a exterminao de povos africanos? Ainda estamos sob o impacto das imagens que, ao vivo e em tempo real, nos jogaram na sideraoqualquer prognstico pode induzir a erros. Tudo parece fico e realidade.
Assistimos a tudo como fico, como um espetculo tipicamente americano, do cinema americano. Nas telinhas da TV, nos vdeos amadores, nas fotos e nas webcams na Internet, o mundo l fora s imagens; parece ficoparece no existir, existindo, entretanto, da forma mais implacvel: ao vivo, direto, live para todo o planeta. Ficamos perplexos pelos fatos, no pela manipulao da mdia, mas pela mdia tomada de assalto pela radicalidade do ato.
A profuso de cmeras, de olhos eletrnicos, nos coloca em meio ao paradoxo maior da imagem: ao mesmo tempo comprovao dos fatos (e a todos somos fontes de informao), e simulacro, fonte de erros e de iluses. Cada olho eletrnico espreita cada pedao como big brothers disseminados, como um panptico eletrnico vigilante (veja, por exemplo as imagens de NY ao vivo no site spycam – http://www.spycam.com.br/spy51-55.htm). Dessa forma, as imagens (amadoras e profissionais) produzidas em todos os lugares e de todas as formas, nos colocam na suspenso das certezas, no excesso de informao e desinformao. A sensao de estarmos assitindo a um filme policial de fico-cientfica, participando, virtualmente, da cena como detetives/espectadores em busca dos responsveis, como se estivssemos em um grande role playing game mundial.
No caso do WTC, a estrutura miditica contempornea (mass media e Internet) est sendo tomada pela dimenso espetacular /especular do acontecimento, mais do que espetacularizando, ela, o mundo real. Esse efeito de espelho, fractal, tem a consistncia de um sonho, do torpor e da anestesia. As imagens nos anestesiam por sua densidade real. Ficamos paralizados diante das cenas aterrorizantes, fixos atrs da confortvel telinha mesmo que a apreenso toque nosso corpo com a possibilidade de uma guerra mundial. Agora mesmo, diante da televiso, vejo a imagem de NY na CNN onde uma fumaa fantasmagrica apenas indcio das duas torres gmeas e gigantescas que simplesmente desapareceram.
real mas parece ficoimaginrio cinematogrfico, magia do inexorvel. Os americanos j concelaram estrias de filmes sobre terrorismo nos EUA, mostrando efetivamente a linha tnue entre fico e realidade. Assim, as estrias de Collateral Damage, com Arnold Schwarzenegger, e Big Trouble foram canceladas por tempo indeterminado. As sries Nova York Contra o Crime e Third Watch da TV tambm esto com suas produes interrompidas por tempo indeterminado.
Comeo efetivoou fim irremedivel do sculo XXI, o ataque que derrubou as duas torres do Centro Mundial do Comrcio, que destruiu parte do Pentgono e que, simbolicamente, derrubou, por tabela, o prdio da Nasdaq (a bolsa da nova e-conomy) nos coloca em meio a um ponto de mutao, de inflexo. Entramos, parece, numa nova ordem mundial, numa ordem de urgncia mxima, na eminncia de uma guerra incontrolvelda a perplexidade causada por essa forma abrupta de rompimento com o lugar comum, com a certeza, com a normalidade do real, que faz com que a anomalidade brutal parea fico.
Estamos todos, como em um sonho, flutuando entre o real, o irreal e o imaginrio, como as imagens da guerra do golfo, uma guerra de informao de virtualizao, de simulao e desrealizao. Mas esta era guerra; metdica, planejada, falada, e no terrorismo dessa magnitude; cego, improvvel e inpensvel. Ci assim mais uma das (in) certezas contemporneas. A era das improbabilidades derruba o lugar sagrado do Tio Sam como imaculado. O senhor do destino do mundo civilizado abalado de forma cruel e indita. Agora, se tudo est globalizado sob a batuta neoliberal, tudo e todos podemos ser alvos desse efeito (global), at mesmo aqueles que aparentemente controlam o processo. No ano 2000 o mundo j tinha acabado (Baudrillard). No sculo XXI tudo recomea? Estaremos vendo o fim do psmoderno?