“COMA” de Joãozito.

Ontem fui ver “COMA”, a última exposição do artista Joãozito. Instalação, exposição de fotos, desenhos, pinturas, performances teatrais, música…tudo isso tendo como cenário a imensidão do Cine Pax, na Barroquinha. Devia ter umas trezentas pessoas no mínimo em circulação. “COMA” tinha interferências eletrônicas em vídeo, desenhos, pinturas, fotos, instalações com peixes, carnes e vísceras expostas, uma tensão entre o humano, a cidade e suas mazelas (o tédio, o fracasso apareciam em vídeo projetado em uma parede com frases como “o tédio mata mais que as drogas”, etc.), o orgânico e o inorgânico. Jogando o participante na imensidão da ruína, Joãozito, consegue dirigir o olhar para o detalhe e para o fundo, para pequeno e o gigantesco. Nessa tensão realiza-se a obra.

De belezas plástica e sonora inegáveis, a “última” exposição de Joãozito tem algo de redentor, de saída desse estado limite de Coma (ou seria Coma do verbo comer?), de entre – lugares, trazendo uma tensão entre o orgânico e o inorgânico que é uma das marcas da contemporaneidade. Joãozito quer salvar pelas vísceras, redimir o mundo do artifício, da técnica, do mercado de gente, de carne, de coisas.

Com uma árvore no meio do cenário, piranhas em um aquário lado a lado com um “aquário de carnes”, performers como “palhaços de uma ficção científica” servindo leite e algodão, telas de colunas d’água com peixes no interior, vísceras expostas como troféus, vídeos mostrando vísceras em plasticidade desconcertante, fotos com vegetais e animais tiradas de tal forma e colocadas lado a lado sugerindo uma indiferenciação…o cardápio é belo e variado. A música, pilotada pelo próprio Joãozito, dava uma dimensão grandiosa àquela visão nos escombros do Cine Pax. A imagem humana, discreta, como se fossemos coadjuvantes, só aparece nos desenho, em algumas pinturas ou em alguns vídeos. A busca do artista foi a de criar um sublime que nos arrebata.

O embate do animalesco, do escatológico, do erótico com a condição humana das metrópoles regidas pelo mercado (não é à toa que o subtítulo da exposição é algo como :”pode haver vida além do mercado”) se redime na tensão com o orgânico. Se for mesmo a última exposição, Joãozito vai deixar um buraco imenso na cena artística local.