Vejam o site freeworldweb.net criado pelo acadêmico inglês Garton Ash que propõe o conceito de pós-ocidente. Para ele, em entrevista à Folha o pós-ocidente é:

Timothy Garton Ash – No apêndice de meu livro há vários mapas, e um deles é

o dos atuais regimes democráticos. Esse mapa nos mostra que as democracias

liberais já ultrapassaram há muito as fronteiras do Ocidente clássico, isto

é, da Europa e dos Estados Unidos, como a América Latina, a Índia, Taiwan e

África do Sul. Defendo a tese de que a crise das relações transatlânticas no

pós-Guerra Fria (1989, queda do Muro de Berlim) e a partir do 11 de Setembro

e da ocupação do Iraque nos coloca a questão de redefinir o mundo

politicamente, ou seja, para além daqueles limites militares geoestratégicos

que o caracterizaram no período bipolar da Otan.

Esse “Ocidente-Otan”, contra a ameaça do Exército Vermelho, não existe mais,

não pode ser restabelecido. Denomino “Pós-Ocidente” a comunidade de nações

liberais que emerge dessa crise e que abriga hoje mais da metade da

humanidade.

Falando sobre a Internet e o google na Folha:

Folha – O sr. vê no programa de busca Google uma ferramenta revolucionária,

que destrói os segredos de Estado. Não lhe parece muito otimista essa

posição?

Garton Ash – Criei recentemente um portal chamado www.freeworldweb.net. É

naturalmente um experimento, no qual se podem discutir vários temas, no qual

franceses, americanos ou brasileiros podem discutir entre si como num café

on-line. A iniciativa de um tratado antiminas nasceu de uma articulação

espontânea entre ONGs e cidadãos na internet e terminou como realidade num

acordo internacional. Como podemos agir? A resposta pode ser: escrevendo

e-mails, plugando-se. Essa é uma prova concreta de que a tão propalada

ilusão de apatia e desinteresse pela política partidária tradicional vem

encontrando outros canais para se articular.

Se no passado o grande inimigo eram os regimes totalitários, hoje nos

confrontamos com a apatia pela política. Temos hoje a falsa convicção,

sobretudo entre os mais jovens, de que a política é apenas um jogo dos

conglomerados e que o engajamento partidário é impotente. Mas nos sobram a

ação civil espontânea, seja em ONGs, passeatas. Este é um mundo de muitas

ameaças mas também um mundo no qual nunca tantos homens foram tão livres.

Mais da metade da humanidade vive em países democráticos, e não existe mais

uma ameaça totalitária.

A revolução de 1989 foi um exemplo único em que cidadãos desarmados, munidos

apenas de palavras, marcharam contra um poder totalitário e derrubaram um

muro. Hoje temos que derrubar os muros da intolerância, da ignorância e do

preconceito.