Passou um bom tempo do seu dia pensando no graffiti. Achava que deveria realmente entrar em um outro momento. Sua vida não era mais sua e disso ele não gostava nem um pouco. Durante toda a sua tranquila existência teve, ao menos é essa a impressão, o controle total, vivendo com um panopticum interior que monitorova todas as suas ações e pensamentos. Os pequenos deslizes, logo que fossem percebidos enquanto tais, eram corrigidos com severidade por ele mesmo. Não era questão de criação, de pais repressores ou coisa parecida. Ele era assim mesmo, controlador de seus impulsos, senhor do seu destino, mestre do seu dia a dia.
Mas agora tudo era diferente…sua vida nao era mais sua, tinha perdido o fio da meada e buscava agora soluções diferenciadas. Mas achar soluções diferenciadas nao era o seu forte…nunca exercera isso e nao era agora, de uma hora pra outra, que ele iria conseguir pular.
A chuva continua fina e o frio aumenta gradativamente ao passar das horas. Ele não consegue se mover diante do graffiti, e mesmo chovendo, continua se sentindo totalmente seco, inabalável e agora imóvel. Pensa na possibilidade metafórica do pulo e começa, pouco a pouco, a acha-la interessante..”não pare, pule!”…simples, prático e radical. O seu problema agora é: como parar e pular?; e para onde? Paralizado escuta vozes internas que lhe dizem aforismos incompreensíveis, misturadas com burburinhos de alguns passantes na chuva…