11 de setembro de 2007

11 de setembro de 2007.

Seis anos do 11 de setembro. O NYT tem uma boa mostra de fotos. Escolhi essa para lembrar a data…várias imagens das vítimas em 3×4, uma sombra de um observador e paralelas lembrando as Torres…


Ashley Gilbertson for the New York Times (Copyright 2005 The New York Times Company)

Reproduzo abaixo o ensaio “World Trade Communication” que escrevi em 2001 para o Correio Brasiliense.

WORLD TRADE COMMUNICATION

Os ataques aos EUA apontam para um novo marco na história do mundo Ocidental, para uma nova reorganização do poder e da geopolítica mundial. Não sabemos ainda até onde esta constatação pode nos levar: terceira guerra mundial? resolução de problemas crônicos como o embargo à Cuba, a guerra entre Palestinos e Israelenses, a poluição do planeta, a exterminação de povos africanos…? Ainda estamos sob o impacto das imagens que, ao vivo e em tempo real, nos jogaram na sideração…, qualquer prognóstico pode induzir a erros. Tudo parece ficção e realidade.

Assistimos a tudo como ficção, como um espetáculo tipicamente americano, do cinema americano. Nas telinhas da TV, nos vídeos amadores, nas fotos e nas webcams na Internet, o mundo lá fora é só imagens; parece ficção…, parece não existir, existindo, entretanto, da forma mais implacável: ao vivo, direto, “live” para todo o planeta. Ficamos perplexos pelos fatos, não pela manipulação da mídia, mas pela mídia tomada de assalto pela radicalidade do ato.

A profusão de câmeras, de olhos eletrônicos, nos coloca em meio ao paradoxo maior da imagem: ao mesmo tempo comprovação dos fatos (e aí todos somos fontes de informação), e simulacro, fonte de erros e de ilusões. Cada olho eletrônico espreita cada pedaço como big brothers disseminados, como um panóptico eletrônico vigilante (veja, por exemplo as imagens de NY ao vivo no site spycam. Dessa forma, as imagens (amadoras e profissionais) produzidas em todos os lugares e de todas as formas, nos colocam na suspensão das certezas, no excesso de informação e desinformação. A sensação é de estarmos assitindo a um filme policial de ficção-científica, participando, virtualmente, da cena como detetives/espectadores em busca dos responsáveis, como se estivéssemos em um grande role playing game mundial.

No caso do WTC, a estrutura midiática contemporânea (mass media e Internet) está sendo tomada pela dimensão espetacular /especular do acontecimento, mais do que espetacularizando, ela, o mundo real. Esse efeito de espelho, fractal, tem a consistência de um sonho, do torpor e da anestesia. As imagens nos anestesiam por sua densidade real. Ficamos paralizados diante das cenas aterrorizantes, fixos atrás da confortável telinha – mesmo que a apreensão toque nosso corpo com a possibilidade de uma guerra mundial. Agora mesmo, diante da televisão, vejo a imagem de NY na CNN onde uma fumaça fantasmagórica é apenas indício das duas torres gêmeas e gigantescas que simplesmente desapareceram.

É real mas parece ficção…, imaginário cinematográfico, magia do inexorável. Os americanos já concelaram estréias de filmes sobre terrorismo nos EUA, mostrando efetivamente a linha tênue entre ficção e realidade. Assim, as estréias de Collateral Damage, com Arnold Schwarzenegger, e Big Trouble foram canceladas por tempo indeterminado. As séries Nova York Contra o Crime e Third Watch da TV também estão com suas produções interrompidas por tempo indeterminado.

Começo efetivo ou fim irremediável do século XXI, o ataque que derrubou as duas torres do Centro Mundial do Comércio, que destruiu parte do Pentágono e que, simbolicamente, derrubou, por tabela, o prédio da Nasdaq (a bolsa da nova e-conomy) nos coloca em meio a um ponto de mutação, de inflexão. Entramos, parece, numa nova ordem mundial, numa ordem de urgência máxima, na eminência de uma guerra incontrolável…daí a perplexidade causada por essa forma abrupta de rompimento com o lugar comum, com a certeza, com a normalidade do real, que faz com que a anomalidade brutal pareça ficção.

Estamos todos, como em um sonho, flutuando entre o real, o irreal e o imaginário, como as imagens da guerra do golfo, uma guerra de informação, de virtualização, de simulação e desrealização. Mas esta era guerra; metódica, planejada, falada, e não terrorismo dessa magnitude; cego, improvável e inpensável. Cái assim mais uma das (in) certezas contemporâneas. A era das improbabilidades derruba o lugar sagrado do Tio Sam como imaculado. O senhor do destino do mundo civilizado é abalado de forma cruel e inédita. Agora, se tudo está globalizado sob a batuta neoliberal, tudo e todos podemos ser alvos desse efeito (global), até mesmo aqueles que aparentemente controlam o processo. No ano 2000 o mundo já tinha acabado (Baudrillard). No século XXI tudo recomeça? Estaremos vendo o fim do pósmoderno?