O Professor, a Internet e o Minotauro

O Professor, a Internet e o Minotauro


Knossos visto do Google Maps

Na revista Entre Livros, n. 28 tem um artigo do Umberto Eco que tenta responder à pergunta de um aluno a um professor:

“Desculpe, mas na época da internet, o senhor para que serve?”.

Essa é uma pergunta capiciosa que nos assombra há algum tempo. Hoje a internet não só é um manancial riquíssimo de informações, como também permite o diálogo, o debate e a discussão, procedimentos indispensáveis a todo processo de ensino-aprendizagem.

Estava agora estudando matemática e o mito do Minotauro com a minha filha de 9 anos. Depois de escrever uma redação sobre Teseu e o monstro, ela me perguntava sobre o labirinto na ilha de Creta. Falei que já estive perto de Creta (fui às ilhas gregas da Ciclades, mas não fui à Creta) e ela, espantada, me perguntou se Creta existia! Não só dei a resposta como, rapidamente, foi ao Google Maps mostrar o Palácio de Knossos, onde supostamente se situava o labirinto. Vimos Creta, as praias, e o palácio. Dizia para ela contar isso a professora e ela me respondeu: “ela nao deve nem saber o que é o google maps”. Não acho que a professora não saiba, mas na realidade não usa! Falei como um velho que na “minha época” não tinha nada disso e ficávamos completamente à mercê dos conhecimentos passados pelos professores ou pelos livros por eles indicados.

Hoje o papel do professor não é o de centralizar o seu lugar como a fonte única do saber (que vem sendo abalado há séculos com os meios de massa como a TV, o rádio, a imprensa, o cinema, a fotografia), mas de indicar o que deve ou não o aluno ver, para onde deve ser jogada a sua atenção. Mas isso não de forma impositiva ou autoritaria. A professora da minha filha fez isso, indicando o estudo dos mitos gregos, mas nao usou a rede e a rede superou aquilo que ela propôs.

No artigo, Umberto Eco argumenta no mesmo sentido, diz que o que deve fazer um professor é saber que percursos indicar, saber aquilio que ele não sabe, e ter clareza disso, impulsionar a curiosidade e a dúvida. Assim, ele ainda serve na época da internet, e talvez seja ainda mais importante já que estamos imersos em uma avalanche de informação que, ou seremos audotidatas geniais, ou nos perderemos sem uma ajuda. A ajuda não significa aqui o controle impositivo na busca pelo conhecimento, mas a indicação de um norte.

Mas se os professores abdicarem da potência da rede aí talvez eles não tenham mesmo mais nenhuma função (como não teriam se ignorassem os livros, o audiovisual, as artes). Ou seja a internet tem “quase” tudo mas não nos diz onde procurar, o que é relevante, o que interessa em um momento específico da formação, que pode ser o primário ou um doutorado.

Como diz Eco, “O problema dramático é que talvez nem sequer o professor saiba ensinar a arte da seleção, ao menos não sobre todo capítulodo saber. Mas, ao menos, sabe que deveria saber; e se não sabe dar instruções precisas sobre como selecionar, pode dar o exemplo de alguém que se esforça para comparar e julgar o que a internet coloca a sua disposição. E, enfim, pode encenar o esforço para reorganizar em sistema o que a internet lhe trasmite…”