Blogs.com

BLOGS.COM

Esse post é o prefácio do livro “Blogs.com. Estudos sobre blogs e comunicação” (SP, Momento editorial, 2009), organizado por Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Montardo. O livro será lançado em versão eletrônica e “Creative Commons”, no dia 22/01 às 14h na área Campusblog do Campus Party em São Paulo. O livro, que tem esse prefácio e posfácio de Henrique Antoun (UFRJ), conta com artigos dos seguintes autores: Adriana Braga , Claudio Penteado, Fernando Firmino da Silva, Helaine Abreu Rosa, Jan Schmidt, Juliana Escobar, Leonardo Foletto, Marcelo dos Santos, Marcelo Träsel, Maria Clara Aquino, Octávio Islas, Rafael Araújo, Rogério Christofoletti e Rosa Meire Oliveira. O livro estará disponível no site www.sobreblogs.com.br.

Aproveito para agradecer mais uma vez o convite para escrever essas linhas.
Escrevi o prefácio em abril de 2008 em Montreal.

Nada melhor para escrever um prefácio sobre o livro BLOGS.COM: estudos sobre blogs e comunicação”, organizado por Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Montardo do que pegar como inspiração textos de um… blog. E, mais ainda, colocá-lo em forma de um post em um blog. Propus às autoras publicar esse prefácio como um post do meu Carnet de Notes, retomando e ampliando algumas informações e reflexões feitas aqui sobre esse tema. Com espírito de abertura, coragem e ousadia, elas toparam. Esse prefácio é assim o que indica a palavra em sua etimologia:prae – fatia” (“falado antes”), ou “prae – factum” (“feito antes”) já que está publicado aqui no Carnet antes mesmo do livro estar em formato papel e disponível nas livrarias. É um prefácio que não está, ainda, acoplado à materialidade do livro, servindo, no entanto, como uma fala anterior que pretende explicar o fenômeno dos blogs e a importância do livro, indicando por quê os leitores devem lê-lo. Agradeço assim às organizadoras por permitir que esse prefácio de um livro sobre blogs esteja, antes de tudo, em um blog!

A experiência

Quando comecei o Carnet de Notes quase não haviam blogs acadêmicos no Brasil, e muito menos na área de comunicação. Muitos colegas me desestimularam, dizendo que eu não iria atualizá-lo, que era uma moda passageira, que ninguém leria e que logo eu perderia o interesse. Erraram feio. Para mim o blog se tornou algo quotidiano, a meio caminho entre um caderno de notas pessoal e um arquivo profissional. Comecei os primeiros posts em março de 2001 e os mantenho quase que diariamente. Penso no blog durante o meu dia a dia e ele se tornou um espaço para lançar idéias, fornecer informações servindo como um observatório sobre minha pesquisa atual e como catálogo de meus projetos, livros, artigos e ensaios. Adiciono citações do dia no Jaiku, mensagens rápidas no Twitter, fotos do Flickr, vídeos do YouTube, informes sobre minha localização em tempo real com Loki e Plazes… Considero esse Carnet de Notes parte da minha produção acadêmica como pesquisador e professor universitário. De fato, ele é um espaço de expressão e de contato com outros, um prazer concretizado e compartilhado em palavras, imagens e informações. Ele é a minha casa no ciberespaço, um texto aberto, indefinidamente incompleto, a ser escrito a cada dia.

E não estou só. Os blogs são, junto com os games, os chats e os software sociais, um dos fenômenos mais populares da cibercultura. Eles constituem hoje uma realidade em muitas áreas, criando sinergias e reconfigurações na indústria cultural, na política, no entretenimento, nas redes de sociabilidade, nas artes. Os blogs são criados para os mais diversos fins, refletindo um desejo reprimido pela cultura de massa: o de ser ator na emissão, na produção de conteúdo e na partilha de experiências. E embora o Carnet não seja um blog sobre blogs, grande parte das minhas fontes de informação são blogs, e muito da minha reflexão gira em torno deles.

A cultura de massa criou o “consumo para todos”. A nova cultura “pós-massiva”, cria, para o desespero dos intermediários, daqueles que detêm o poder de controle e de todos os que usam o corporativismo para barrar a criatividade que vem de fora, uma “isegonia”, igualdade de palavra para todos. Os blogs refletem a liberação do pólo da emissão característico da cibercultura. Agora todos podem (com mínimos recursos) produzir e circular informação sem pedir autorização ou o aval a quem quer que seja (barões das indústrias culturais, intelligentsia, governos…). O fenômeno dos blogs ilustra bem essa cultura pós-massiva que tem na liberação do pólo da emissão, na conexão telemática e na reconfiguração da indústria cultural seus pilares fundamentais (ver meus últimos artigos).

Post It…

O fenômeno comemorou sua primeira década no final de 2007. O termo blog vem de “weblog“, contração de “web” e “log”, criado por John Barger com o seu pioneiro “Robot Wisdon” em 17 de dezembro de 1997. Em matéria da Wired de dezembro de 2007 Barger dá 10 dicas para novos blogueiros. Acho algumas dicas inúteis, mas replico aqui algumas pela importância histórica do personagem. Para Barger, o melhor período dos blogs (como sempre o melhor é o que passou!) foi em 1998-1999. Imaginem, logo quando ninguém usava, escrevia ou sabia o que isso significava ou significaria. Aí vão algumas dicas

“- A true weblog is a log of all the URLs you want to save or share. (So del.icio.us is actually better for blogging than blogger.com.)

– You can certainly include links to your original thoughts, posted elsewhere / but if you have more original posts than links, you probably need to learn some humility.

– If you spend a little time searching before you post, you can probably find your idea well articulated elsewhere already.

– Always include some adjective describing your own reaction to the linked page (great, useful, imaginative, clever, etc.)

– Credit the source that led you to it, so your readers have the option of “moving upstream.”

Re-post your favorite links from time to time, for people who missed them the first time.”

O post do Écrans de dezembro de 2007, festejando este aniversário, pergunta a alguns blogueiros como eles definem os blogs. Vejam algumas pérolas respondendo a pergunta, “o que é um blog?”:

“- Une feuille blanche. Quotidienne. Addictive., Nicolas Voisin, du blog Politic Show

– Un blog, c’est comme un très très gros mégaphone, pour dire n’importe quoi, mais à plein de gens d’un coup. Pénélope Jolicoeur, du blog Pénélope Jolicoeur

– Un blog est un lieu où le personnel va chercher l’universel. Concrètement, on fait semblant de parler de soi pour mieux toucher les autres. Maïa Mazaurette, du blog Sexactu

– Une façon de trier et développer quelques idées, de les partager et de les enrichir au contact d’amis fidèles mais qu’on n’a pourtant jamais rencontré. Eric Viennot, du blog Y’a pas que les jeux vidéo dans la vie !

– La mise en application concrète et heureuse de la sérendipité : on y trouve des choses ou des gens passionnants, qui vous bousculent, de manière imprévue, en cherchant autre chose, voire en ne cherchant rien du tout. Nicolas Vanbremeersch, du blog Versac

– Personnellement c’est ma mémoire, mes marques pages, mes archives personnelles (qui deviennent donc publiques)… Etienne Mineur, du blog Etienne_mineur

Para mostrar que esse não é um fenômeno menor, forneço alguns dados para compreender a sua amplitude. Em dezembro de 2007, Technorati contava 112 milhões de blogs. A cada dia são criados mais de 175 mil novos e produzidos 1,6 milhões de posts (cerca de 18 por segundo). Últimos dados do “State of the Blogsphere” de 2006 indicavam que o número de blogs dobra a cada 5,5 meses e que um blog é criado a cada segundo, todo dia. Em relação ao Brasil, estima-se que há entre 3 a 6 milhões de blogueiros/blogs e 9 milhões de usuários (as estatísticas variam muito em fontes como Ibobe/NetRatings, Intel entre outras), o que corresponde a quase metade dos internautas ativos no país. Nos EUA, por exemplo, 64 % dos adolescentes participam de alguma forma da criação de conteúdo on-line. Os blogs são mantidos por 28% deles. 39% disponibilizam e compartilham suas próprias criações artísticas on-line (fotos, vídeos, textos, etc.). Os dados são de um estudo de 2006 realizado pelo Pew Internet & American Life Project. Matéria do Estadão On-Line aposta que em 2012, 25% do conteúdo da internet será criado pelos próprios usuários. Essa é uma das diferenças entre as mídias de função massiva e as mídias de função pós-massiva. Segundo a pesquisa, “…as pessoas terão um desejo genuíno não só de criar e compartilhar seu próprio conteúdo, como também de fazer remixagens e mashups, e passá-los adiante em seus grupos – numa forma de mídia social colaborativa (…)”. Artigo do francês Telerama de fevereiro de 2008 informava que os blogs passaram o jornal “The New York Times” como fonte para busca das informações mais importantes da atualidade. Segundo o Telerama:

“Sur quatre des cinq sujets retenus par les journalistes de l’Associated Press – exceptée la crise des subprimes -, les blogs sont remontés plus hauts que le New York Times dans la page de résultat. Un bémol cependant: la position dans le classement Google varie selon le nombre de liens qui pointent vers votre page. On a donc bien mesuré… la popularité des blogs eux-mêmes! Vont-ils pour autant supplanter les sites de presse traditionnels? Rien n’est encore joué”

A Web 2.0 (blogs, micro-blogs, podcasts, YouTube, Google Maps, wiki…) permite ainda agregar mapas, fotos, vídeos e mobilidade aos blogs. Há sistemas que permitem enviar vídeo ao vivo do celular para um blog, como por exemplo Flixwagon ou QIK. Novos sistemas, como Seero, possibilitam o envio de vídeo e áudio, ao vivo, com localização por GPS em mapas digitais, direto do celular. Essas novas experiências revelam a ancoragem nos “espaços de lugar”, criando a possibilidade de testemunho de acontecimentos, importantes ou banais, ao vivo, de troca de informações para reforço comunitário e para a gestão do tempo e do espaço no quotidiano. Post do Digital Urban de abril de 2008 explica o sistema:

“(…) Seero breaks new ground by being the first platform to allow its users to broadcast live and on-location through Google Earth. Viewers can load Seero’s global KML feed in GEarth and see the GPS positioning of each broadcaster along with their live video feed. Justin Cutillo, Seero’s CEO, describes the new feature: “the end goal is to utilize Google Earth and Seero’s broadcasting platform to create an accurate and dynamic representation of what’s happening in the world and where it’s taking place. It really is one of the moments that you have to take a look at the demo, sit back and then think how amazing is the ability to stream your location, video and sound live to a blog, Google Map or Google Earth. (…)”

Política e Ativismo

Questões de censura, política e ativismo estão diretamente relacionadas aos blogs. Muitos países reprimem blogueiros e censuram blogs, revelando que a liberação da emissão tem uma forte conexão política. Dar voz à todos (liberação da emissão), permitir o compartilhamento e a troca de informações (conexão) são poderosas ferramentas políticas de transformação da vida social (reconfiguração). Vou citar alguns exemplos. Post do Global Voices Online de janeiro de 2008 trazia em destaque a brutal condenação de jornalista à morte por circular um texto encontrado em blog iraniano sobre direito das mulheres e religião:

“The Afghan Association Blog Writers (Afghan Penlog), a community established by a group of Afghan activist bloggers, has expressed deep concern for a young journalist Sayed Parwiz Kambakhsh who was condemned to death by a local court. He has been a reporter for Jahan-e Naw (New World) weekly and a student of journalism at Balkh University. According to Afghan Penlog and international media, Parwez Kambakhsh was detained by the authorities on October 27, 2007 for downloading and distributing an article that he found on an Iranian weblog to friends. It spoke of women’s rights Equal-Pay-No-Way, the Quran and the Prophet Mohammed. A local court in northern Afghanistan in Mazar-e Sharif has convicted him to death for the alleged blasphemy.”

Ainda no Global Voices, post de março de 2008 chamava a atenção sobre a intensa atividade da blogosfera na crise do Tibet:

“Just looking for any word from bloggers in the Lhasa area on what the situation is there as of Friday local time; The unrest coincides with the 49th anniversary of the Tibetan people’s unsuccessful uprising against the PRC occupation of the former theocracy, and comes the day after what was being called the worldwide Tibetan people’s uprising was stopped at the Indian border. Updates will be added here as further blog posts are found. The Time China blog brings us one European tourist’s writing, photos and video from Lhasa earlier this week.”

Matéria da Folha Online de novembro de 2007 informava sobre ação de blogueiros contra a tortura no Egito, organizando um festival de filmes sobre o tema:

“Os blogueiros egípcios, muito ativos no combate às violações dos direitos humanos em seu país, querem realizar na internet um festival de vídeo de torturas. O concurso seria realizado em paralelo ao 31o Festival de cinema do Cairo, informou a imprensa da capital egípcia nesta terça-feira. Entre os prêmios da competição estão Chicote de Ouro. Idealizado por um blogueiro chamado Walid, este projeto de festival paralelo exibirá imagens polêmicas de tortura que teriam sido cometidas pelos serviços de segurança’, explicou o jornal egípcio de língua inglesa ‘The Egyptian Mail’. Os blogueiros egípcios revelaram muitos casos de supostas torturas cometidas por policiais, entre os quais atos de sodomia praticados contra um prisioneiro com um bastão. A cena, filmada com um telefone celular, foi amplamente divulgada na internet, gerando críticas entre os defensores dos direitos humanos e levando à prisão dois policiais. (…)”

O telefone celular tem sido um instrumento potente na mão dos blogueiros. Por exemplo, SMS e blogs são usados para coordenar protestos no Paquistão, criando formas autônomas e rápidas de organizar manifestações políticas. Vejam trechos do post do Mobile Active de novembro de 2007:

“Bloggers, activists and organizers in Pakistan are using SMS – short test messages – to coordinate protests and send updates on the political situation since Pakistani President Pervez Musharraf imposed martial law on November 3. Only 12% of Pakistanis have access to the internet (…) Bloggers in Pakistan report that November 3 had the ‘highest number’ of SMS messages sent — an average of about 10 per mobile phone.(…) The Aurat Foundation, a women’s rights organization in Islamabad, has organized an SMS center to organize protests and send political updates. Members of the network ‘decided to circulate their message of protest through text messages and work towards the restoration of human rights, the judicial system and the removal of the media blackout amongst other issues.'(…) ‘Recently with help from a number of brilliant technologists around the globe we have enabled LIVE SMS-2-BLOG services allowing citizen reporters in Pakistan to directly update this blog by sending this blog, readers shall now be given live updates from the field as it happens.’ “

O novo fenômeno dos “micro-blogs”, como Jaiku e Twitter, permite um contato mais direto com pessoas de interesses similares. Um post do Rue 89 de novembro de 2007 analisava os micro-blogs, as redes sociais e as tecnologias móveis como novas formas de comunicação que poderão, em um futuro próximo, desbancar o e-mail…ao menos para a geração mais jovem. Isso mostra como o e-mail está associado a formas de comunicação “sedentárias”, e como os micro-blogs e SMS ganham terreno por serem mais rápidos, telegráficos, permitindo o envio em mobilidade. Vejam trechos da matéria do Rue 89:

” (…)Je me suis cependant résolu à l’idée que le succès de tous ces autres outils vient du fait que l’e-mail n’est pas parfait. Les messages instantanés, les SMS, les blogs et les micro-blogs, les profils sur les sites de réseaux sociaux compensent les défauts de l’e-mail. (…) Bien plus que l’e-mail, tous ces moyens de communication instantanée reproduisent les interactions habituelles des enfants dans la rue ou dans leurs chambres. L’e-mail, en comparaison, peut sembler guindé et laborieux. Ecrire demande de la méthode et du temps, l’e-mail est plus proche de la lettre que de la conversation. Même son temps de diffusion, à peine quelques secondes, est considéré comme terriblement lent.(..).

O uso dos blogs é tão intenso que outro post do Rue 89 de abril de 2008 – que apareceu agora, no momento em que estou escrevendo esse prefácio – aponta para a angústia do blogueiro diante da tela branca, do estresse que a atividade quotidiana cria (mais uma!). Vejam abaixo alguns depoimentos:

“- Je me sens, par exemple, obligée d’alimenter le blog même quand je n’ai pas vraiment le temps (ou des idées de billets). Sinon, les emails commencent à arriver de lecteurs me demandant si tout va bien.

– Parfois, j’écris un texte tard le soir, en rentrant d’un dîner qui s’est prolongé. Je me défoule, je balance tout ce que j’ai accumulé dans la journée. C’est une catharsis. Le lendemain matin, je me précipite avec angoisse devant mon écran et je découvre avec consternation ce que j’ai écrit la veille.”

– Ma seule souffrance est de ne pas rédiger assez et de me sentir coupable quand je vois les assez nombreuses connections de gens qui viennent vérifier si j’ai du nouveau alors que je n’ai rien fait.”

Blogosfera? Leiam o livro!

Os exemplos são inúmeros e aparecem a cada dia. A blogosfera não pára de crescer e me sinto orgulhoso de participar dela, lá se vão 7 anos. Como compreender esse fenômeno socio-comunicacional de impacto planetário? Os blogs se transformam não só em um objeto fundamental de pesquisa para as ciências sociais, mas também em um poderoso instrumento pedagógico. Vários acadêmicos, e me incluo aqui, usam os blogs para lançar idéias e colher comentários; para criar ambiente de discussão que amplia a sala de aula e permite aos alunos trocar idéias, adicionar comentários; como memória de pesquisa; como obra de arte…Os usos e os tipos são inúmeros e crescem a cada dia.

Não é, como me diziam alguns há sete anos atrás, um fenômeno menor, passageiro, mas sim de um verdadeiro sintoma da cibercultura e do desejo de conexão e comunicação permanente. Isso não significa fim de conflitos e problemas. Como mediar o debate sem centralizar o poder? como criar mecanismos de confiabilidade nas informações e nos comentários sem implementar regimes corporativos esclerosados? como criar qualidade e tirar o joio do trigo nessa polifonia planetária? Não há respostas simples para estas questões.

O jogo está aberto. O desafio é achar uma saída criativa que evite o pensamento binário e simplório que por um lado insiste entre a “mediação” clássica (dos pares, dos editores, dos sábios) e, por outro, no populismo pobre que dá voz a todos sem hierarquias de valores. A riqueza da cibercultura está na criação de ferramentas que potencializam a pluralidade e a democratização da emissão. Mas tudo é virtual e só o debate (político) poderá atualizar essa dádiva. O atual estado de tensão e complementaridade entre os sistemas massivos e pós-massivos deve amadurecer.

A vida social tira proveito dessa tensão. As pessoas convivem com esse duplo sistema sem muita dificuldade: elas vêem TV e acessam a internet, baixam podcasts e ouvem rádios, lêem críticas dos experts em veículos massivos e acessam blogs de “pessoas comuns” ao redor do globo. A reconfiguração da cibercultura criou um ambiente mais rico já que hoje, como usuários, temos mais opções de escolha de informação e, pela primeira vez, podemos publicar e distribuir, de forma planetária, conteúdo em forma de áudio, texto, foto, vídeo. E, com os novos dispositivos sem fio, em mobilidade.

O fenômeno dos blogs merece ser estudado, debatido e visualizado em todas as suas facetas. O livro que está em suas mãos tem o mérito de abordar esse fenômeno por todos os ângulos, com rigor e competência. Os artigos tratam de temas fundamentais para a compreensão da blogosfera e é uma contribuição importante para as ciências sociais e a para comunicação em particular. O livro é útil tanto para acadêmicos como para o público em geral. As organizadoras Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Montardo, estudiosas do fenômeno e blogueiras de primeira linha, companheiras de debates em congressos e, claro, em blogs e micro-blogs, dividem o livro em duas sessões que guiam o leitor para o que interessa: uma perspectiva epistemológica, tentando situar os blogs como objeto de pesquisa científica (“sessão 1 – definições, tipologias e metodologias”), e uma outra socio-antropológica, dando ênfase aos usos e apropriações da ferramenta (“sessão 2 – uso e apropriações”). No seu conjunto, o livro trata de questões conceituais, históricas, políticas, sociológicas, jornalísticas, subjetivas, educacionais, dando um quadro bastante completo do fenômeno, já nascendo como uma referência para professores, pesquisadores e alunos de comunicação e das ciências sociais como um todo.

Gostaria de ressaltar também o cuidado em recuperar não só uma bibliografia internacional (o que todos fazem), mas de prestar atenção e dar o merecido valor aos autores nacionais, aos papers apresentados em congressos e aos artigos e livros publicados no país por autores brasileiros. As organizadoras, e os respectivos autores, mostram que, às vezes, “santos de casa” fazem milagres sim!

Devemos louvar a iniciativa e congratular os (as) autores (as) pela excelente contribuição acadêmica para a análise desse fenômeno vivo que cresce diante dos nossos olhos. Cabe então ao leitor descobrir. Espero que o livro possa alimentar e criar mais blogs, que os leitores possam postar suas opiniões, críticas e sugestões para que possamos conhecer e circular os novos conhecimento gerado pelo livro.

Montreal, abril de 2008

André Lemos é PhD em Sociologia pela Paris V, Sorbonne (1995), Pós-Doutorado pela University of Alberta e McGill University, Canadá (2007-2008), Professor Associado da Faculdade de Comunicação da UFBa e Pesquisador 1 do CNPq. Autor de vários artigos e livros sobre cibercultura foi membro do júri do prêmio Best of Blogs, da Deutsche Welle, Bonn, Alemanha e é membro do conselho internacional do Prix Ars Electronica para Digital Communities e Board do “Wi. Journal of Mobile Media” e “Canadian Journal of Communication”, Canadá. Blogueiro desde 2001, idéias, livros, artigos, projetos, podem ser vistos em https://andrelemos.info