…Belleville estava particularmente efervescente nesse dia. Andou, esquivando-se dos passantes: negros vestidos como se estivessem em suas terras natais, árabes que se saudavam na passagem, orientais de todas as origens correndo nas tarefas quotidianas. Se o mundo não é Belleville, Belleville contém um mundo…A chuva continuava insistente, fazendo com que ele não se esquecesse de seu corpo…os pingos da chuva não o tocavam, ou assim parecia. Ao chegar ao Père Lachaise, defronta-se com as paredes imponentes de seus muros, passa o portal e é abordado por alguém que queria vender, por 10 francos, um mapa, mostrando a rotas dos túmulos mais famosos: Jim Morrison, Isadora Duncan, Chopin, Alain Kardec…Não havia interesse específico. Não queria ver tumbas ou fazer turismo mórbido, apenas se perder nas ruas do famoso cemitério, onde o silêncio ajuda a pensar e os corpos, agora degradados, não incomodam mais. Sua vida estava na normalidade absoluta, o que o deixava muito, muito conformado e estressado ao mesmo tempo. Aliás a conformidade é essa espécie de morte diária, de fim de expectativas, de neutralidade absoluta. Nunca fora muito nômade em si mesmo e, agora, devido a nova situação, teria que inventar a si mesmo; o que não era uma prática diária. Buscava uma saída, mas nada era evidente já que sempre procurou, o mais insistentemente possível, permanecer na tranquilidade inerte do dia a dia. Parou diante de um graffiti nos muros que dizia “não pare, pule!”. Era isso que precisava, pular…