Twittando at debaixo dgua

Twittando at debaixo dgua

…ou “Fui no Toror, beber gua e me afoguei!” #Salvador #chuva
(do twitter hoje…


TwitPic de eslinie, a primeira foto que eu vi hoje do caos

Hoje caiu um dilvio em Salvador e, em poucas horas, a cidade ficou completamente debaixo dgua. Estava dando aulas e, s 12h, recebi vrias ligaes e no sabia de quem era. Depois descobri que era de uma amiga da minha filha, que havia esquecido o celular, tentando me avisar que elas estavam ilhadas na porta do colgio sem ter como sair. A rua em frente estava completamente alagada. At ento no sabia disso e nem do caos na cidade. Deixei para l as ligaes e me preparava para voltar para casa.

Sa da Facom s 13 horas e encontro, ainda dentro do Campus, um engarrafamento gigantesco. A avenida em frente, a Adhemar de Barros em Ondina, estava alagada. Liguei para casa e soube da minha filha presa na escola e das enchentes no meu bairro. Resolvi ento ligar o rdio, no carro, e o Twitter, no meu celular. Chovia, mas no muito. Do rdio ouvia depoimentos de pessoas principalmente sobre a situao do transito. No Twitter, um show de informao com detalhes de acidentes, notcias de arrasto na Barra e na Paralela, links para fotos no TwitPic e outras informaes e, claro, infos do trnsito catico. E tudo isso em tempo real, como uma conversao coletiva. Muitos escreviam sobre o silncio das TVs e dos jornais locais sobre o que acontecia “aqui e agora”.

Vejam essa sequncia para ter uma idia:

Sem ter o que fazer resolvi voltar para a Facom e, da minha sala, fiquei acompanhando as coisas pelo Twitter. Fui ver alguns jornais online locais mas no achei nada muito…informativo, ou algo que me servisse imediatamente e localmente. Abandonei e voltei ao Twitter, muito mais intenso, rpido e detalhado. E no tinha mesmo como ser diferente. No Twitter, acompanhado a tag #chuva e #salvador eram inmeras pessoas escrevendo em tempo real, como no exemplo acima. Dei um tempo e resolvi encarar a cidade e voltar para casa.

No caminho, aproveitava os sinais fechados e os engarrafamento para atualizar o Twitter sobre o que via por onde passava: os carros quebrados, carros em posies perigosas parados e abandonados na contramo, a inexistncia de agentes de trnsito ou policiais, os engarrafamentos…ia escrevendo, dirigindo e lendo os replies que me chegavam. No Twitter, diferente do rdio que continuava a ouvir, vrias pessoas me respondiam imediatamente sobre o que eu postava. Eu escrevia: “orla engarrafada. vou pegar a Garibaldi’ e rapidamente recebia um reply: “Garibaldi tb engarrafada tb, levei 1 hora para chegar na Tancredo Neves”… E assim foi at que consegui chegar em casa.

E continuava ouvindo o rdio, a nica mdia massiva que realmente desempenhava um papel importante nessa crise. Eu escrevia e lia no Twitter as informaes e, ao mesmo tempo, ouvia o rdio. O meu sentimento era de estar imerso em um ambiente miditico com duas ferramentas complementares e muito similares. O rdio funcionava com uma espcie de Twitter sonoro. E havia remediao: o Twitter falava de coisas que circulavam no radio, embora as estaes de rdio no fizessem referncia ao Twitter. Elas no estavam mesmo vendo o que se passava no Twitter, desconheciam completamente esse novo ambiente. No rdio, tambm, as pessoas interagiam, mas indiretamente verdade, mediadas pelos ncoras dos programas os dos flashes de notcias. Nada dessa cobertura massiva chegava sequer perto da completude e da velocidade do Twitter. Este mostrava-se conversacional, interativo, para usar uma palavra que est saindo da moda, comunitrio, local, multimiditico, atento aos contextos e aos interloctures!.

Tivemos hoje um show de mdia alternativa e uma mostra de como os veculos massivos locais esto realmente perdendo o bonde da histria. Definitivamente, eles precisam se adaptar potncia da informao bottom-up, aberta e conversacional, funes estas que tenho chamado de “ps-massivas”. Jornais online e as TV locais praticamente ficaram em silncio. Os jornais impressos s vo falar do caos amanh mesmo, quando tudo j passou. Agora, as 19h, em casa, vejo as imagens da cidade, com uma sensao de “dj vu”. Atrasadas, elas me dizem o que eu j sei. Estariam as mdias massivas destinadas a fazer arqueologia do passado imediato?

Para ver o que aconteceu no Twitter busquem as tags #chuva e #salvador. Vejam tambm o interessante post da Paula Goes sobre o uso do Twitter em Salvador.

Os gigantes da mdia “foram no Toror beber gua e se afogaram!”

8 Replies to “Twittando at debaixo dgua”

  1. Ol, Andr
    Belo post! Jornalista que sou, tive a mesma sensao que vc, hoje – sites e TVs de nada me serviram. As decises que tomei sobre como me locomover na cidade submersa vieram via interao no Twitter.
    Abraos,
    Ana F.

  2. Acompanhei tudo pelo twitter, e ia espalhando aqui em casa, gritando para o povo. E me perguntavam, aonde tinha visto essas informaes,qdo dizia internet,me perguntavam logo, em que site? Em nenhum site de noticias, no twitter mesmo,meu atual vicio informativo.
    Ia lendo o que a galera dizia, e ao mesmo tempo procurando nos sites e nadaaaa! Na tv s passava aqueles filmes antigos e Senhora do Destino, enquanto o destino de vrias pessoas iam mudando por conta do diluvio. No fui fazer uma entrevista, porque o entrevistado mora em Massaranduba e l estava tudo alagado.
    A internet,veio para que todos pudessem colocar a boca no trombone, sem esperar os "gigantes da mdia", se afogarem no Toror para s no dia seguinte noticiarem algo.

    bjos!

  3. muito interessante esse post, Andr. Aqui em sampa, o pgm de radio local, o cbn sao paulo, ancorado pelo milton jung, trabalha concomitantemente ao twitter. e de vez em qdo, o jung fala do q ele t lendo no tuiter e tbem d replies em tempo real.

  4. Oi Andr, acompanho sempre seu Carnet.

    passei por situao parecida final do ano passado, moro em Itaja, cidade no sul que foi a mais atingida pela enchente. Coincidentemente no final de semana que as guas invadiram a cidade, eu estava em SP, voltando para casa e no consegui entrar em Itaja, era impossvel. Fiquei em Joinville, e minha principal ferramenta para saber notcias e entrar em contato com parentes foi o Twitter. Jornais e TV repetiam notcias, e eram vagos "Centro e bairros prximos comeam a inundar" enquanto via blogs e Twitter eu conseguia saber a situao de ruas especficas. Outro fato interessante que na poca o jornal local, a prefeitura e pessoas comuns criaram blogs de emergncia, um inclusive alimentado pela populao, para registrar e encontrar pessoas desaparecidas e desabrigadas.

    http://diarinhonachuva.blogspot.com/
    http://prefeituradeitajai.wordpress.com/
    http://desabrigadositajai.wordpress.com/
    http://allesblau.net/

    grande abrao
    Samara
    @zksk

  5. Pois ento; tive ontem, as 9 da manh, a infeliz idia de ir ao shop. Iguatemi resolver prendncias. Nem consegui chegar. Por volta das dez o Itaigara j estava alagado. Fiquei pelo shopping at as 15h, quando a gua baixou e pude voltar pra casa, na Barra. Desci do nibus que estava, ainda s 10h e liguei o celular na rdio, que dava informes do trnsito e da chuva na cidade. Por problemas na rede da Oi, n pude tuitar via cel, mas dava informes para minha irm, que o fez por mim e lia o tweets na minha pg. No fim das contas, ao ver a importncia do twitter pro dia de ontem, meu pai disse: essa ferramenta veio pra facilitar a vida de todos. Espero um dia estar em massa. Fiz uma conta pra ele…

  6. Comentei a pouco abordagem semelhante no Herdeiro do Caos, constatando que de fato a emergncia e a disponibilidade tecnolgica pode fazer um diferencial impressionante nas mos do cidado, mesmo sem ser pautado.
    Imaginem isso em eventos polmicos, como votao no Senado e na Cmara, locais que merecem um olhar diferenciado. As desgraas nos unem (!?), mas isso deveria ser levado para outras pautas!
    Um dado que dificulta a informao da Daniela Brown (IDGNOW), quanto ao valor do SMS no Brasil R$ 0,30 cada, um dos mais caros do mundo!
    As empresas deveriam facilitar essa tensa e declarada vontade de participar da populao!
    /////
    @_@?
    ~~~

  7. Foi, realmente, impressionante a cobertura que os twitteiros de Salvador fizeram. Por se tratar de um problema que atingia diretamente toda a cidade, foi algo realmente muito grande. Em menor grau, todavia, j vnhamos experimentando eventos do tipo, como por exemplo, a cobertura em primeira mo feita do incndio no Instituto de Qumica (comeada, alis, por alunos do PETCOM e da Rdio Facom).

    O Twitter, inclusive, vem aprimorando essa potencialidade com ferramentas mais especfias. O twittergrid (http://tweetgrid.com), por exemplo, atualiza pra gente em tempo real posts com as palavras-chaves que pedirmos.

  8. A nica ressalva que eu gostaria de fazer com relao questo do rdio. Para mim, a diferena entre a transmisso radiofnica e o Twitter se d no comprometimento que o Jornalismo tem (ou deveria ter) com a apurao dos fatos antes de public-los. Pude perceber ontem, que o Twitter, apesar de ter sido uma ferramenta muito importante, apresentou, algumas vezes, equvocos com relao veracidade de alguns fatos. Vide exemplo da queda de uma parte do gesso do Iguatemi que, para muitos, foi um piso inteiro, para outros, o teto do Outback, etc.
    Acredito na potencialidade do Twitter e dessas novas ferramentas, mas no compartilho tanto da idia de que o jornalismo poder passar a fazer arqueologia do passado imediato, pelo menos, no por enquanto. Vejo a mdia massiva e os novos meios como complementares uns aos outros.

    No mais, achei um timo texto.
    Abraos.

    Egideilson Santana

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