Discutíamos ontem do GPC como os sons podem criar sentido de lugar. A discussão era sobre os dispositivos móveis tipo celulares e mp3. Bull já havia mostrado como, desde o walkman, esses dispositivos criam uma verdadeira trilha sonora para o mundo. Mais ainda é pouco explorado como esses dispositivos podem criar sentimentos de pertencimento a um lugar, vivências específicas no lugar em meio a mobilidade e a um suposto isolamento. Para além da força “isolante” dos mp3 players (que é supervalorizada e que deve ser pensada em termos de momentos – ninguém se torna um ser anti-social por usar dispositivos portáties de música, mas posso me isolar agora e não depois, etc.), devemos pensar em suas capacidades sociais (trocas de informações, compartilhamento de fones de ouvido, dicas de sites para baixar música), mas também em sua dimensão locativa, como marca de um lugar, como indexador que produz sentido espacial, mesmo em mobilidade – um som me lembra um lugar, estar em um lugar me lembra determinada música, um som em um lugar desperta determinadas emoções, etc…
Vejam como exemplo dessa dimensão locativa sonora essa “escada-piano” na Suécia para estimular as pessoas a se movimentarem. Segundo informações, o uso da escada aumentou em 66%. Dica do Macello Medeiros, que agradeço.
Vejam sobre a discussão de mp3 e lugar o post de fevereiro de 2008, e o outro de abril com uma citação do Bull. Vejam também outros post no Carnet aqui, aqui e aqui.
Há vários projetos que também exploram essa dimensão sonora dos lugares com mapeamento mostrando uma outra dimensão locativa dos sons, como por exemplo os projetos Buenos Aires Sonora, Montreal Sound Map, Som Ambiente, de Belo Horizonte, entre outros.
André, mas aí fico na dúvida: os sons ajudam mesmo a criar lugares (sentido de pertencimento), ou é a apropriação que as pessoas fazem de sons localizados, específicos que cria este vínculo, e portanto o lugar? Afinal, não são todos os nossos sentidos, relacionados a certas configurações territoriais e dinâmicas espaciais que contribuem de forma determinante na definição dos lugares? Sendo assim, não seria qualquer relação corporal e/ou sensorial que temos com o espaço uma potencial criadora do sentido de lugar?