Pensamento (de quem?) do domingo sobre direito autoral e a ideia de autor. Para diminuir a nossa prepotência, deixo essas passagens do livro “O senhor Valéry e as Conferências”, do escritor português Gonçalo Tavares, a partir do verso:
“Tenho tantas coisas na minha cabeça, não pode ser para mim”, de Marin Sorescu.
“O que se apresenta é a tese de que os pensamentos de um homem não são sua propriedade, ou melhor, podem ser sua propriedade – eventualmente temporária -, mas não nascem dentro do seu organismo. Os pensamentos como que nasceriam no exterior, e de lá entrariam na cabeça. A criação ou a produção de pensamentos não seria uma produção privada, mas sim coletiva ou sem sujeito produtor. Os pensamentos seriam produzidos exteriormente (na atmosfera, por exemplo) e transferidos depois para cada pessoa. É esta a tese, ou uma possível tese.
(…)
Depois de perceber que vem dos macacos, depois de perceber que o mundo onde vive não é o centro do universo, ao homem ainda faltava uma humilhação: chegar à conclusão de que aquilo que pensa não é produzido por ele, mas sim por qualquer estrutura exterior. A Terra não é o centro e nem os teus pensamentos são teus. É duro, sem dúvida, ouvir isso, e daí a angústia com que se lê este inteligente verso de Sorescu”. (pp.46 – 47)