Para que cibercrimes?
Mais uma contribuição no Blog do Sergio Amadeu, agora com um texto de Jomar Silva, Coordenador da ODF Alliance e especialista em segurança da informação. Vejam a comparação que ele faz se fosse adotar o projeto não na internet mas “na vida real”. Bem ilustrativo e esclarecedor. Replico aqui os trechos principais e seria bom que todos espalhassem para suas redes/blogs/microblogs…
“(…) Se o projeto em discussão fosse apresentado para resolver o problema da criminalidade ‘no mundo real’, olha só o que ele iria propor (vou pegar apenas uma das propostas, ok ?):
‘Todo comércio ou empresa (pessoa jurídica), prestadora de serviços de acesso (ex. transporte público) ou conteúdo (bens e serviços em geral) deverá manter durante três anos um histórico de todas as pessoas que utilizaram seus serviços, registrando seu RG, filiação e outros dados que permitam identificar os cidadãos.’
Na prática isso significa o seguinte:
Você sairá de casa pela manhã para trabalhar e o porteiro do seu prédio vai ter que anotar seus dados e registrar sua saída. Quando você entrar no bar para comer um ‘pão na chapa com pingado’, o seu Manoel da padaria vai ter que anotar seus dados também. Saindo da padaria, pegando um táxi (ou ônibus, trem, metro ou qualquer outro meio de transporte), o responsável por ele também vai anotar seus dados. Chegando no prédio onde trabalha, a portaria vai também registrar sua entrada, tal como a recepção da sua empresa.
E assim vai sendo o seu dia, com alguém anotando passo a passo tudo o que você fez, gerando uma infinidade de registros que permitirão acompanhar todos os seus passos, todos os dias da sua vida (e claro, armazenando tudo isso durante três anos, para evitar uma multa mais do que salgada). Quando um crime qualquer for cometido, a polícia poderá requisitar todos estes registros e com base neles, encontrar o criminoso… será que vai funcionar mesmo ?
Será que o ‘criminoso’, sabendo que todos os seus passos serão anotados, vai utilizar o seus documentos verdadeiros no dia a dia ? Será que os transtornos que uma medida dessa irão causar, vão trazer com certeza algum ganho ? Será que uma sociedade que vive assim pode ser chamada de sociedade democrática ?
Ainda com este caso hipotético em mente, como ficará a situação de um pequeno comerciante que não tiver recursos para capturar e manter estas informações durante os três anos que a lei determina ? Como ficará por exemplo, o controle de acesso a uma feira livre ? Fiz esta analogia, pois a lei em discussão pretende fazer isso no acesso á Internet e sendo assim, vai inviabilizar totalmente a utilização de toda e qualquer rede aberta, pois a implementação e manutenção de um controle como este vai custar caro e analisando o custo de manter este sistema (e o risco inerente de ainda assim ser multado), não tenho dúvida que o mais fácil (e barato) a se fazer será desligar os transmissores e fechar as redes abertas.
É claro que as operadoras de telecom vão adorar ver apenas as terríveis e instáveis conexões 3G como única forma de acesso sem fio ‘dentro da lei’. Idem para os escassos provedores de Wifi, que tal como as operadoras, cobram preços absurdos pelos serviços. Aliás, o custo destes acessos deverá ficar ainda mais elevado, uma vez que as exigências legais para a prestação do serviço agora serão mais pesadas. Pior que tudo isso, é ver que as regras em discussão atualmente, estrangulam no berço uma das tecnologias mais promissoras que foi criada nos últimos anos, as redes Mesh.(…)”.