Maps and Non-Places
Em relação ao último post, acabo de ler uma passagem que pode nos ajudar a pensar os mapas como “não-lugares”, compreendendo aí lugares que “perdem sentido”. O texto de Richard Coyne e Martin Parker, “Voices out of Place. Voice, non-place and Ubiquitous Digital Communication” (em Nyíri, “Mobile Understanding. The epsitemology of Ubiquitous Communication”) vai discutir o papel da multivocalidade em meio às novas tecnologias da mobilidade, particularmente o celular. Interessante como o texto questiona, mas não rompe com o conceito de não-lugar de M. Augé.
A voz é o que quebra o silêncio, que “offends, cries out in protest, and rants. The voice is commonly associated with indiscration, or at least it transgresses easily. The voice offers spontaneous protest…” e podem “organizing dissent”. Podemos incluir aí os discursos transformados em mapas. Não lugares são lugares sem sentido. Aeroportos, estradas, shoppings, fronteiras, estacionamentos…, áreas negligenciadas por cientistas sociais e regulamentadas, um território com leis e regras que, por assim ser, homogeizam e comercializam o espaço. Não-lugares são áreas silenciosas, controladas e vigiadas. E cada vez mais por dispositivos digitais móveis…GPS, celular, mapas…Estar nesses lugares é estar sempre “under suspicion”, realizando o ideal iluminista de “contrato social”. Ele é um lugar regulador e discursivo (“wi-fi avaiable”, “no smoke”, “no loitering”, “do not use mobile phones”…).
A era eletrônica estaria ampliando esses espaços e controlando-os por CCTV e/ou outras ferramentas de localização e monitoramento. Todo sistema de seguraça transforma um lugar em “não-lugar”, afirmam os autores, já que os não-lugares “are putative intolerant of disorder and dissent”. O não lugar é um território de controle e de imposição de comportamento, logo… um lugar! O texto vai afirmar que os telefones celulares tem servido como ferramentas de discenso, reportando acontecimentos banais ou importantes, ampliando a potência pertubadora das vozes. Eles buscam “criar sentido” em lugares “sem sentido”, os não-lugares. Seriam assim formas de deterritorialização, de quebra de controle de um espaço monitorado e vigiado, sem sair dessa condição.
No caso dos mapas sobre crimes do último post, eles colocam um olho em cada ponto da carta e cada olhar diz algo sobre o lugar. A “vigilância distribuída” (aberta e colaborativa) transforma todo o mapa em em não-lugar. Ao territorializá-lo (por controle e vigilânca para garantir as regras) ela faz com que ele “perca sentido”.
Por exemplo, analisando o familywatchdog em post de fevereiro de 2006 e cruzando dados com um diretório de endereços escrevia: “Para testar entrei num outro site impressionante, o Zaba Search (que cruza bancos de dados e fornece o endereço de qualquer pessoa nos EUA) e coloquei o nome do escritor Paul Auster…caí no endereço dele e pude ver se um dos meus escritores favoritos estaria em perigo. Testei outro e na realidade, se extrapolarmos, todos estão em prerigo pois sempre tem algum criminoso por perto…Vemos aqui uma verdadeira psicogeografia do medo e do preconceito.” O mapa perdia sentido para mim. Mesmo sistemas de “contra-vigilância” ou “sousveillance” (ver isee e os trabalhos de Steve Mann), reforçam esse sentimento, ao lutarem contra. Mas eles são também formas de liberação de vozes, de desterritorialização.
Os mapas de crime, ao transformar todo o mapa (o país) em uma área de controle e de observação, faz com que o mapa perca sentido e que todo o país se transforme em um “não-lugar”. Afirmam Richard Coyne e Martin Parker: “non-place , a contested category that deals with authority, immediacy, embodiment, docility and dissent in particular ways. Non-places is primarily a textual entity, dependent on signage, but abetted and subverted by the authority of vocalizations. (…) Non-places deploy technologies of silence and docility (…). But the voice has the capacity to break through, to reconfigure the borders of non-place”.
Cabe observar, por fim, que há inúmeras experiências onde pode-se ouvir as vozes pertubardoras. Vejam esse post por exemplo. Há mapas comunitários que agem justamente no sentido de questionar as leis e lutar por modificações na política e na vida comunitária. Outros buscam resgatar a memória do lugar através de histórias e depoimento dos cidadãos. Esses mapas produzem e reproduzem o sentimento de pertencimento, criam, diferentemente dos não-lugares dos mapas de vigilância, sentido social e pessoal aos lugares.
A criação de conteúdo colaborativo em mapas pode assim servir tanto para transformar os lugares representados em não-lugares, lugares regulados e sem sentido, como para dar sentido e reforçar a pertecimento local.