Devemos pensar os projetos com mídias locativas a partir dos seus modos de medição. Defendi essa hipótese em recente texto enviado à Compós (texto inédito e ainda em análise). Reproduzo aqui um pequeno trecho para o que me interessa nesse post:
“Modo designa a forma, a maneira como algo se relaciona com o mundo, as formas de interação e comunicação. Pelo modo podemos identificar como determinado conjunto de tecnologias se relaciona com o lugar e como os agentes humanos e não humanos criam processos de significação . Os diferentes modos de mediação nos fornecem possibilidades investigativas sobre os processos de espacialização em jogo. Mediação é o diálogo ou a ação entre os diversos atores onde não há causalidade facilmente identificável. Ela se dá de acordo com os modos, ou seja, ela é uma ação a partir da maneira pela qual se dá o processamento, a troca, o consumo e a produção infocomunicacional local entre os atores. Com as mídias locativas, a espacialização se dá pelos modos de mediação, pelas formas de ação entre agentes (humanos, artefatos, lugares) a fim de oferecer serviços (navegação, localização, etiquetagem, mapeamento, redes sociais, jogo, acesso, etc.). A mediação deve ser vista aqui como entendimento da ação dos agentes interferindo na percepção e uso do espaço e na ressignificação do mesmo. Os modos de mediação implicam em formas materiais específicas e abertas entre os sujeitos (humanos e artefatos). É a relação (social e moral) que daí emerge que produz o espaço. Para o estudo das mídias locativas propomos pensar seis modos de mediação. São eles os modos de escuta (sonoro); de escrita (textual); de visibilidade (mapeamento); lúdico (jogo); de acesso (conexão) e; de sociabilidade (rede social). Um projeto com mídia locativa tem vários modos. Por exemplo, projetos de anotações eletrônicas como Yellow Arrow ou GPS Drawing privilegia o modo de escrita. Sonic City , Buenos Aires Sonora e Montreal Sound convocam o modo de escuta. Neighbornode , Peuplade , Barcelona Accessible colocam em ação o modo de visibilidade. Redes sociais móveis como Imity , Dodgeball e Citysense funcionam sob o modo de sociabilidade. Nos jogos Geocaching ou Uncle Roy All Around You é o modo lúdico que se sobressai. Em áreas de acesso Wi-Fi o modo de acesso é evidente. Em todos os projetos, um ou outro modo de mediação locativo também estará em jogo.(…)”.
Post do The Pop-Up City mostra uma nova aplicação, BlockChalk, que se encaixa no que chamo de modos de mediação locativos de escrita e sociabilidade (ver acima). A ferramenta a ser usada em smatphones permite que as pessoas escrevam sobre lugares que frequentam (dicas, sugestões, queixas, avisos, etc) e essas informações ficam disponíveis para outros (seja para uma pessoa específica, seja para qualquer pessoa que use o sistema e passe pelo local). Usando GPS para a localização, BlockChalk, serve como uma ferramenta de escrita e leitura eletrônicas sobre o seu bairro/cidade (daí as palavras “Block” e “Chalk”) permitindo um maior engajamento social, cultural, cívico com o lugar. Vejam a descrição do BlockChalk no The Pop-Up City:
“BlockChalk is a new locative media tool made by former Delicious people Stephen Hood and Dave Baggeroer. BlockChalk is available for different smartphones and meant, according to its makers, to be “the voice of your neighborhood”. BlockChalk essentially enables us to correspond with strangers that are close-by. The GPS-based app enables users to leave notes, or ‘chalks’, about what’s going on at a certain location. Users can then reply to other users’ chalks.”
O post do The Pop Up City, faz uma interessante comparação com o “Notificator”, robô que oferecia o serviço de mensagens públicas de pessoa para pessoa em Londres (ver foto abaixo). Segundo post do Boing Boing, o Notificator é de 1935 e o blog compara o dispositivo ao Twitter.
E embora esse “LBS (location-based service)” fale de “vizinhança”, certamente ele pode se tornar uma verdadeira plataforma para conversação no espaço urbano, como uma especie de “twitter hiperlocal”. O sistema mostra mensagens por proximidade a partir de coordenadas de localização do GPS e não por divisão administrativa dos bairros. Assim, ele pode se tornar uma plataforma de conversação sobre o espaço público expandido. O autor do post do The Pop-Up City diz que há já interessantes interações em NY e Los Angeles.
“Although BlockChalk pretends to be a neighborhood app, the whole idea essentially has nothing to do with neighborhoods. To the contrary, if BlockChalk is to become a huge communication platform (which as always depends on a ‘critical mass’ of users), it will be used to redefine the neighborhood from a static into a flexible concept. (…) BlockChalk will open doors for location-based communication within certain ‘interest groups’ as well as for very temporary messages and calls such as “Who can help starting my car?”.
Vejam vídeo explicativo:
BlockChalk: The Voice of Your Neighborhood from BlockChalk on Vimeo.