Gangorras

Acho essa iniciativa, com essa impactante imagem, de uma força e de uma importância mundiais, em meio à rejeição sistemática dos imigrantes, de crescimento do fascismo, aqui e ailleurs, da violência contra minorias e do desrespeito aos direitos humanos, de descaso em relação à atual crise climática…

A obra de Rael (@rrael) desloca um objeto que por tradição está em um espaço bem delimitado nas cidades – as áreas de lazer para crianças, e o insere “entre espaços”, in between, provocando o rompimento da separação das fronteiras impostas. A gangorra é um objeto que necessita de ação mÚtua, de conexão entre os usuários para funcionar. Não é o brinquedo para um. Há necessidade sempre de dois. Assim, in between, ele produz movimento pela força compartilhada, rompendo fronteiras. Rompe, pois interliga corpos de povos afastados por fronteiras fechadas por outro objeto – a grade de separação.

A obra é uma ode à conexão. Ela nos alerta para o irremediável da nossa ligação, apesar da ilusão da separação. O movimento de um lado produz um movimento do outro que produz um movimento no outro… Essa é a dinâmica de todas as coisas. Mediação radical! Estamos conectados (a pessoas, objetos, outros animais, clima…) e o que acontece de um lado, repercute de outro. Isso vale para a crise climática, para a política, para as formas de sociabilidade, para a economia mundial, para a cultura.

As gangorras de Rael formam um experimento lÚdico e político ao mesmo tempo, ele é geopolítico, pois rompe fronteiras entre dois países, é uma ludopolitics em alto grau. Hoje, mais do que nunca, é importante sermos lembrados, com inteligência, diversão e estética, da interconexão como o nosso estado de ser no mundo. A violência da separação é sempre ilusória.