Salvador, Capital Cultural Global

Salvador, Capital Cultural Global

Fotos e alguns rapidos comentarios da/sobre a palestra de Rob Sheilds hoje sobre o tema das “Capitais Culturais Globais, o caso de Salvador”, no Art Building da University of Alberta. O argumento mais interessante desenvolvido por Shields foi a relativizacao do que seriam “cidades globais”. Muitos autores contemporaneos identificam as cidades globais (NY, Toquio, Londres) a partir do fluxo financeiro, informacional e pelo peso de instalacao de companhias globais.

Embora esses principios estejam sempre atrelados a dinamicas sociais e culturais (nao podemos dizer que Toquio, NY, ou Londres nao sejam capitais culturais globais), pode-se levantar a hipotese de que seria possivel pensar em capitais culturais globais sem que as mesmas tenham, necessariamente, a presenca de fluxos (financeiros, cientificos, informacionais) ou empresas globais. Esse ponto e’ interessante e mereceria mais investigacao. Poderiamos pensar em Viena, Buenos Aires, Moscou, Machu Pichu…nesses termos?

Shields tentou, a partir dai, discutir a posicao de Salvador, identificando, ao mesmo tempo, tracos de globalizacao cultural e problemas de posicionamento da cidade em relacao aos padroes de globalizacao. A discussao foi interessante, principalmente por Salvador, de alguma forma, parecer recusar participar dessa dinamica global (embora os governantes e fazedores de politica queiram isso a todo custo, para dinamizar a cultura, a sociedade, o turismo, a economia). Ha algumas evidencias dessa falta de interesse, digamos assim, para se globalizar: nao ha turismo efetivamente global, os servicos sao ruins, transporte deficiente, violencia, nao se fala ingles, nao se encontra muitas informacoes em outras linguas; nao e’ facil achar, por exemplo, na Casa de Jorge Amado, livros do proprio em ingles, etc.

Talvez isso se de pelo nacisismo do baiano que, na realidade, ja se acha no centro do mundo, o berco mesmo da globalizacao: “cidade da alegria”, “o baiano nao nasce estreia”, e outros cliches do genero. Ha tambem o lado da resistencia (embora involuntaria) em participar desse “padrao de globalizacao”. Uma resistencia contra-cultural, no caso, contra os padroes da globalizacao: a cultura baiana se basta, temos a melhor comida, a melhor musica, as melhores praias…logo, que o mundo se adapte a nos!

Na realidade nao falei nada e me limitei a apreciar, como brasileiro e morador de Salvador, a curiosidade e a visao “global” de estrangeiros sobre a nossa provincia (totalmente legitima e bem verdadeira ao meu ver). Aproveitei para curtir o espetaculo de estar quase no polo norte, em Edmonton, a 2 graus com um ceu cinza, cercado por canadenses, asiaticos, russos…,ouvindo falar de candomble, do sol, das praias, do acaraje, das favelas e dos orixas…Uma delicia! Eles viam Salvador de forma “ex-otica”…e, da mesma forma, eu os via! E isso nao tem nada de depreciativo.

Um bom papo e uma boa discussao que me fizeram pensar no que pode significar “casa”, “lar”, “territorio”!