Ruas, Mapas e Panoramas

Ruas, Mapas e Panoramas

Ontem discutimos em dois post o problema da paisagem urbana, dos mapas, dos croquis e dos territórios (diferenciais, oficiais, informacionais) na atual fase da computação móvel. Os sistemas de mapeamento estão se expandindo e se complexificando a uma velocidade gigantesca. Os usos dessa nova prática informacional do espaço urbano devem ser estudados não só por urbanistas, mas por sociólogos, antropólogos, filósofos.

Sistemas como “Google Maps/ Earth”, “Street View’, “Yahoo!Maps”, “Panoramio”, “MapQuest”, “My Maps Plus”, entre outros, estão aí para nos mostrar esse desenvolvimento criando cartografias oficiais e possibilidades de croquis diferenciais, como discutimos anteriormente. Resta sempre a questão: Será que esses novos sistemas locativos e móveis poderão resgatar a vida nas ruas das cidades? Eles poderão abrir novas veredas nas paisagens urbanas, ou apenas veremos a performance maquínica e o gozo do nosso conhecimento informacional sobre o mundo? Estamos em meio a essa questão crucial para compreender as relação sociais, comunicacionais e o futuro das cidades da era da informação, as cibercidades.

Recente trabalho de Adam Greenfield, apresentado no festival Pic Nic, aponta para uma possibilidade de resgate da dimensão social das ruas com as tecnologias pervasivas e locativas. Trechos do Pasta&Vinegar:

“For centuries, the street provided city dwellers with usable public space right outside their houses. Now, in a number of subtle ways, the modern city has made streets which are for ‘going through,’ not for ‘staying in.’. Through various examples, Adam showed how ‘we killed the street’ due to cars, traffic, overplanning, the ‘repeating module of doom’ (succession of franchises) leading to what Augé calls ‘non-places’ and Rem Koolhas refers to as ‘junkspace’. The city then becomes ‘stealthy, slippery, crusty, prickly and jittery’ through defensible space elements such as the following one I spotted in Amsterdam last week:

This situation leads to various forms of ‘withdrawal syndromes’: ipod usage, mobile phone/blackberry digging… and the city is less ‘a negotiation machine between humans’. In sum, ‘we lost something’ and instead of lamenting (‘nostalgia is for suckers’), Adam highlights the challenge: to rediscover the city of Jacobs, Rudofsky and Alexander in a way that is organic to our own age. This means that ubiquitous computing can be a candidate for that matter. (…)”.

Será?

Para complementar essa discussão, vejamos o sistema de mapeamento e criação de camadas informacionais do espaço urbano, o “Earthmine“. Esse novo sistema de mapeamento visa interfacear de forma ainda mais completa e interativa o espaço urbano (e suas paisagens) com conteúdo informacional digital e telemático, acessível por meio de telefones celulares ou outros dispositivos móveis, criando zonas de territorialização (controle) do espaço público, tornando-o ainda mais funcional e comercial.

Vejam a descrição do “Earthmine” (interessante nome!!!!) no Techcrunch:

“Earthmine is working to bring that concept of visually mapping the real world to a deeper level by improving the quality of virtualization and by enabling the indexation of objects found in landscapes. Imagine for a second that you could notify your friends of something cool or noteworthy that you see when out on the town by simply pulling out your cellphone, bringing up a panorama of your location, and tagging something (a store, a parking spot, an historic landmark) with a note that is automatically shared with your friends. Then imagine you’re a restaurant owner who wants to entice potential customers by tagging the outside of your diner within a 3D panorama with menu information and digital coupons. None of this is possible yet, but Earthmine will provide the technology that could very well make it all a reality.(…)”

Essas tecnologias locativas (mapeamento, localização, acesso de informação dos espaço físicos em fusão com o eletrônico…) podem, efetivamente, servirem para a criação de processos “diferenciais”, como falávamos nos últimos post. Elas podem agir como instrumentos para novas formas de leitura e de escrita do espaço urbano possibilitanto a “revitalização” do espaço público e a criação de territórios simbólicos, para além dos meramente oficiais. Paradoxalmente, a mobilidade informacional pode criar zonas de “atenção” ou de “fixação” no espaço urbano, agindo de forma oposta à mobilidade do automóvel ou dos deslocamentos objetivos do dia a dia que não permitem a “atenção” ou a “fixação” e sim o “fluxo”, apagando o espaço na velocidade dos movimentos, como diria Virilio. Mas será que esses proecessos se estabelecerão? Vamos observar e continuar a estudar o fenômeno.

Abaixo vídeo do Earthmine: