Place, Space, Locative

Place, Space, Locative

Post interessante do varnelis.net, Goodbye Supermodernism, sobre o livro homônimo de Hans Ibelings e sobre a visão de não-lugar de Marc Augé. Embora não concorde com essas visões (Augé, Tuan, Relph) e esteja mais próximo de autores que vêm o lugar como fluxo e não como enraizamento permanente e identitário (Massey, Thrift, Paasi) a discussão do post é boa e a posição do autor mais próxima da minha. Vou colocar trechos para os leitores e depois lanço algumas reflexões que tenho feito por aqui a -19 graus centígrados (desculpem se meu cérebro começa a congelar ;-)).


Wireless Zone em Edmonton (Foto André Lemos)

“(…) Augé’s remarkable observation was that, in the contemporary world, place is giving way to “non-place.” Places, Augé explained, are made up out of social interactions between people, accumulating in memory to form historical meaning. Contemporary life, however, is a relentless procession through spaces of transit. Airport lounges and freeways are non-places, but so are less obvious spaces: ATMs, computer workstations, and supermarkets. In these spaces shared experiences between humans rarely develop. Non-places, Augé concluded, remain empty, meaningless environments that we pass through during our solitary lives.(…)

This new technology facilitates our connections with co-workers, family and friends in a hectic world. Anthropologist Ichiyo Habachi has observed that the mobile phone creates a “telecocoon,” an extension of intimate personal space into our surroundings. Through both phone calls and text messaging, it is possible to feel the presence of others nearly constantly and non-places become domesticated. Moreover, as the Internet has matured, it too has become a virtual hang out, through social networking sites such as Myspace and Facebook but also through forums, blogs, photo sharing sites, and even multiplayer online games such as World of Warcraft (don’t dismiss these out of hand: the average age of players is 28 and Warcraft has 8 million subscribers worldwide).

Does this mean that we are connecting with the others who share in the space we pass through? No, this networked culture does not portend a return to the place of old. But neither do we live in a space of solitude (although often we might wish to be in one). Instead, our space is a networked one, with wireless communications linking individuals both nearby and distant.

Yet more changes to our notion of space may be around the corner as well. Experiments by hackers and artists with “Locative Media” suggest that uniting GPS sensors and PDAs will allow us to overlay vast amounts of networked information onto the environment. Space will acquire new forms of networked meaning. Using your smart device, you will be able to pull up information—historical information, personal notes, restaurant reviews, and collective histories—about your environment.

Non-place, then, is only a brief transitional entity and Supermodernity only a way-station on the way to a network culture.(…)”


Fluxo em White Avenue, “lugar” de agito em Edmonton (Foto André Lemos)

Pensar hoje temas como comunicação, espaço, lugar e território torna-se central para compreender o que está em jogo nessa interface atual entre vida social e espaço urbano midiatizado pelas novas tecnologias digitais móveis. A relação do lugar com as mídias sempre foi problemática, já que vários estudos apontam para a tendência das mídias de massa para a destruição das relações sociais autênticas, do sentimento comunitário, do face a face…elas destruiriam assim o “lugar”, essa parte socialmente construída do espaço.

A globalização e as novas tecnologias do ciberespaço estariam agora soterrando definitivamente o lugar. A mobilidade (de pessoas e de informação) ameaça o lugar, já que esse é majoritariamente visto como ponto de fixação, de enraizamento (podemos colocar aqui Tuan, Lefebvre, Harvey, Augé). Os fluxos apagam, destroem, enfraquecem os lugares. Como podemos pensar isso hoje, nas sociedades avançadas e na era dos fluxos globais de informação, pessoas, mercadorias e capital? Os lugares não existem mais?

Vou tentar mostrar nos próximos artigos e no livro em gestação o contrário. Os “lugares” só existem justamente nesse movimento de fluxos, e isso sempre aconteceu com todos os lugares. Apenas uma visão mais nostálgica vê o lugar como centro comunitário, a casa, a família (muitos estudos culturais feministas questionam essa visão de lugar desenvolvida até meado dos anos 80). Os lugares são espaço de sentido, formado por diversas tensões e linhas de fluxo que os compõem.

Vejam por exemplo os bairros do Rio Vermelho em Salvador, de Copacabana no Rio de Janeiro, ou da Vila Madalena em São Paulo, apenas para citar o Brasil. Eles não são lugares estáticos, de vínculo enraizado de uma comunidades, mas, pelo contrário, ganham o status de “lugar” justamente por serem formados por uma miríade de tensões, fluxos, comunicação, entrecruzamentos corporais, sonoros, visuais, étnicos, sexuais que, embora sejam fluxo diversos, criam efetivamente a idéia de um lugar. Embora fluxo, Copacabana, Rio vermelho e Vila Madalena são lugares.

Podemos dizer, como hipótese ainda, que as diversas experiências com as “mídias locativas”, como afirma Varnelis em seu post, estão criando novas significações no “espaço urbano”, produzindo novas e reforçando antigas “localidades” e não simplesmente as destruindo. Esse é o interesse em se pensar o “território informacional” como “território” formado por fluxos eletrônico que se enraízam em espaços sociais criando, transformando, consolidando “lugares”. Como afirma Pred, “Places are never ‘finished’ but always ‘becoming’. Place is ‘what takes place ceaselessly, what contributes to history in a specific context through the creation and utilization of a physical setting” (Pred, 1984).

Os lugares (e diria mesmo todos, não só os atuais) nunca estão finalizados, acabados, “pausados” como diria Tuan, mas estão sempre na tensão entre “virtualização”, a fuga, o movimento, o fluxo, e atualização, a territorialização. Ele é sempre um resultado de mobilidades. O lugar não é a fixação do movimento mas uma atualização temporária de uma virtualidade infindável que o transforma e o caracteriza como “evento” (Escobar, Massey, Thrift) e não em “ponto”. Desenvolverei mais sobre essa relação com as mídias locativas no livro em andamento, nos artigos e em próximos posts.

Comentários e críticas são sempre bem-vindos!