Nova Esfera Conversacional

Nova Esfera Conversacional

Capítulo do livro de Dimas A. Künsch, D.A, da Silveira, S.A., et al, “Esfera pública, redes e jornalismo”., Rio de Janeiro, Ed. E-Papers, 2009, ISBN 978857650243-2, pp. 9 – 30, sobre a nova esfera conversacional disponível aqui.

Abaixo um pequeno trecho:

“Os mass media estimularam a conversação e a opinião pública, mas de forma indireta, midiatizada e
ligada a interesses de grandes corporações. Primeiro, consumo pelas mídias massivas, depois, conversa
em praça pública, agendada e enquadrada. Hoje, com as mídias de função pós-massiva, a conversa se
dá na própria ação midiática, nos espaços eletrônicos do ciberespaço (blogs, microblogs, wikis, listas de
discussão…) onde consumo, produção e distribuição de informação potencializam as conversações e a
troca de opiniões. O ciberespaço se aproxima mais de uma praça pública do que de um espaço
televisivo. O internauta parece mais conversar e trocar opiniões do que assistir a emissão televisiva na
sua sala ou ler o jornal do dia em um café. Há aqui o resgate da esfera conversacional quotidiana, do
“mundo da vida”, que estaria na base de um possível enriquecimento da dimensão pública e da ação
política. A conversação é inerente aos meios eletrônico-digitais. O “mundo da vida”, relacional, das
redes telemáticas, desenvolve-se no seio mesmo do novo ambiente pós-midiático que é o ciberespaço.
Há uma pulsão gregária e comunitária para além da apatia massiva característica da indústria cultural
do início do século XX. Há aqui uma alternativa para a criação de esferas públicas realmente
comunicativas.

Pode-se assim, como hipótese, pensar no ciberespaço como uma nova esfera pública de conversação
onde o “mundo da vida” amplia o capital social, recriando formas comunitárias, identitárias (público),
ampliando a participação política. A função conversacional das mídias de função pós-massiva pode
servir como fator privilegiado de resgate da coisa pública, embora não haja garantias. A participação, a
colaboração e a conversação são as bases para uma ação política, mas não garantem a sua efetividade.
Como na epígrafe deste artigo, é importante garantir que haja conversação, que as trocas não sejam
apenas um “interrogatório unilateral”, como parece ter sido o caso com as mídias de função massiva
(pensem no jornal televisivo, por exemplo). Como afirma Tarde, a conversação só surge depois de um
longo período de “aguçamento dos espíritos”. O desafio é fazer com que o “aguçamento dos espíritos”,
que parece estar em expansão com as mídias de funções pós-massivas, possa criar as bases para uma
conversação plena e, consequentemente, produzir um reforço da coisa pública, da opinião e da política.”