Entrevista


Foto tirada em Vancouver…Noite solitária.

Acabo de dar uma entrevista para o Jornal O Estado do Rio de Janeiro e, como tenho feito sempre, coloco aqui a íntegra. As questões são do jornalista Rodrigo Pereira:

RP – Recentemente o diretor da F/Biz, Marcelo Castelo, declarou que em poucos anos o celular irá superar o número de acessos à internet pelo computador. Você acredita nessa possibilidade de expansão da tecnologia móvel?

AL – Acho que a expansão é um fato. O número de linhas e do uso dos telefones celulares estão em expansão, não só no Brasil (estamos chegando a um celular por habitante), mas no mundo, principalmente em países em desenvolvimento e emergentes. Acho que a tendência é o acesso à internet em dispositivos móveis, mas não só os celulares. Incluo aí os notebooks, netbooks e, agora, os tablets. O nosso desafio no Brasil é encarar o celular como uma ferramenta de inclusão digital, baixar as tarifas (uma das mais caras do mundo), melhorar os serviços para que todos possam usar a potência desse dispositivo.

RP – A ajuda às vítimas dos tsunamis, em 2004, via internet móvel, foi uma das grandes desmistificações de conceitos equivocados que consideram o “virtual” como uma “dimensão contrária ao real”.
Gostaria que você falasse um pouco sobre a transformação da maneira como as pessoas interagem a partir da “era da conexão”, e sobre as alterações no nível de desterritorialização e nomadismo.

AL – A oposição entre real e virtual é equivocada. No que se refere às redes de computadores, essa oposição é ainda mais desprovida de sentido. Tudo o que fazemos com os computadores tem impactos diretos no nosso entorno imediato, no nosso quotidiano. Hoje, com os dispositivos móveis e os instrumentos de localização, essa questão deve ser mesmo superada. Veja o uso dos celulares nas explosões do metrô de Madri, em Londres, em vários países africanos que servem como mobilização social e política e para denunciar guerras ou para fazer valer ajudas comunitárias; veja o uso do Twitter nas últimas eleições do Irã… A tecnologia de comunicação só faz sentido se estiver ligada a um contexto temporal e espacial, ao aqui e agora.

RP – Por último, há possibilidades de se criar uma dependência negativa em função destas tecnologias móveis? A “dependência” que digo seria depender deste tipo de tecnologia para tantas ações que um “apagão” repentino no sistema cause caos generalizado.

AL – Sim, devemos saber desconectar, calar, ouvir. É importante participar e interagir, mas é fundamental também saber sair de todo esse barulho e poder viver com a possibilidade da não comunicação. No fundo, a comunicação é um artefato que inventamos, nós os humanos, para poder suportar a solidão e o isolamento, a consciência da morte. Devemos usar as tecnologias de comunicação para sobreviver, mas devemos também saber sobreviver no silêncio e na incomunicabilidade.