Ele não cessava de pensar naquele graffiti. Queria pular mas não sabia como. E o pior é que não era só a forma que o preocupava. No fundo, não sabia para onde ir. A inércia de sua vida sem graça o havia paralisado. Buscou então uma solução mais fácil, sair de relações viciadas e necrosadas. Isso já era, ao menos, uma forma concreta de ação, sem precisar buscar a solução ideal ou definitiva. Sabia que esta era impossível. Tomava consciência, naquela chuva que parecia não o tocar, que era resolvendo pequenos detalhes que poderia, de maneira mais madura, achar uma solução para sua penível vida. E assim o fez. Pensou, em primeiro lugar, em cortar relação com pessoas nefastas, pessoas que sugavam sua energia vital, embora nao acreditasse nem um pouco nesse papo de energia. Lembrou de uma música do americano Lou Reed, que ouvia sempre, independente de seu estado de espírito, “sword of democles”, onde o personagem dizia não acreditar nessas besteiras místicas. Ele era assim, concreto, quase um cientista que acredita tanto na razão que ela vira uma fé.

E assim, andando perdido por entre tumbas de gente famosa, naquela chuva fria e sem graça que o deixava indiferente, que começou a fazer uma lista de pessoas a evitar. Nao tinha mesmo mais nada a perder e então catologava nomes na sua cabeça, nomes que queria esquecer, todos os nomes a começar pelo seu. Nas alamedas molhadas do Père Lachaise, refletia sobre a importância de cada nome, sobre a incrível força desses nomes que criam monstros só em serem pronunciados. A palavra não mata a coisa, pensava, antes ela a cria de uma forma inexorável.

Mas ele estava no estado de não aceitar destinos. Nada mais naquele momento seria inexorável. Para tudo deveria haver uma saída…menos para a morte…pensou, olhando famosos fragmentos de corpos que, se é que ainda estavam lá, jaziam aos seu lado. Caminhou em direção à saída. Não queria mais compartilhar o silêncio dos mortos, queria a vitalidade da rua que pulsava para além dos muros do famoso cimitério. Precisava da vida em meio aos mortos, mesmo daquelas vidas banais, vidas virtuais que não tinham mais nenhum élan. Queria Belle Ville, queria o metrô Alexander Dumas, queria ver o Sena…queria dizer não a várias pessoas que circundavam sua vida como moscas um pote de mel. De agora em diante tudo iria começar a mudar lentamente, mas progressivamente, pensava em sua reflexão de cientista. Encontrou o sentido do pulo…esse não seria o pulo com ó maiúsculo, mas uma série de pequenos pulos quotidianos que iriam lhe dar força para superar a crise. Bom, era assim que pensava, pelo menos naquele instante. Cruzou a porta do Père Lachaise entendendo o sentido de sua visita.