Twittando até debaixo d´água
…ou “Fui no Tororó, beber água e me afoguei!” #Salvador #chuva
(do twitter hoje…
TwitPic de eslinie, a primeira foto que eu vi hoje do caos
Hoje caiu um dilúvio em Salvador e, em poucas horas, a cidade ficou completamente debaixo d´água. Estava dando aulas e, às 12h, recebi várias ligações e não sabia de quem era. Depois descobri que era de uma amiga da minha filha, que havia esquecido o celular, tentando me avisar que elas estavam ilhadas na porta do colégio sem ter como sair. A rua em frente estava completamente alagada. Até então não sabia disso e nem do caos na cidade. Deixei para lá as ligações e me preparava para voltar para casa.
Saí da Facom às 13 horas e encontro, ainda dentro do Campus, um engarrafamento gigantesco. A avenida em frente, a Adhemar de Barros em Ondina, estava alagada. Liguei para casa e soube da minha filha presa na escola e das enchentes no meu bairro. Resolvi então ligar o rádio, no carro, e o Twitter, no meu celular. Chovia, mas não muito. Do rádio ouvia depoimentos de pessoas principalmente sobre a situação do transito. No Twitter, um show de informação com detalhes de acidentes, notícias de arrastão na Barra e na Paralela, links para fotos no TwitPic e outras informações e, claro, infos do trânsito caótico. E tudo isso em tempo real, como uma conversação coletiva. Muitos escreviam sobre o silêncio das TVs e dos jornais locais sobre o que acontecia “aqui e agora”.
Vejam essa sequência para ter uma idéia:
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veramartins: Escolas d Pituba mantêm crianças nos prédios desde cedo.Segundo profs da Girassol, bandidos assaltam carros nos alagamentos #chuva #Salvador
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herdeirodocaos: parou de chover no cab #chuva #salvador
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rodrigocarreiro: Na Pituba não chove mais e o céu abre timidamente #chuva #salvador
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paulofortes: Caos da #chuva em #salvador e a prefeitura informa como estava o Trânsito nas Principais Vias no dia 27/03. http://tr.im/kyIf. Acorda João!
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patricksilva: Segundo o @lorofalso , deu na #metropole que estão fazendo arrastão na paralela. #chuva em #salvador
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herdeirodocaos: RT @gersons há pessoarrr.. ta sem energia em Brotas, Cidade Jardim e Itaigara. #chuva #salvador
Sem ter o que fazer resolvi voltar para a Facom e, da minha sala, fiquei acompanhando as coisas pelo Twitter. Fui ver alguns jornais online locais mas não achei nada muito…informativo, ou algo que me servisse imediatamente e localmente. Abandonei e voltei ao Twitter, muito mais intenso, rápido e detalhado. E não tinha mesmo como ser diferente. No Twitter, acompanhado a tag #chuva e #salvador eram inúmeras pessoas escrevendo em tempo real, como no exemplo acima. Dei um tempo e resolvi encarar a cidade e voltar para casa.
No caminho, aproveitava os sinais fechados e os engarrafamento para atualizar o Twitter sobre o que via por onde passava: os carros quebrados, carros em posições perigosas parados e abandonados na contramão, a inexistência de agentes de trânsito ou policiais, os engarrafamentos…ia escrevendo, dirigindo e lendo os replies que me chegavam. No Twitter, diferente do rádio que continuava a ouvir, várias pessoas me respondiam imediatamente sobre o que eu postava. Eu escrevia: “orla engarrafada. vou pegar a Garibaldi’ e rapidamente recebia um reply: “Garibaldi tb engarrafada tb, levei 1 hora para chegar na Tancredo Neves”… E assim foi até que consegui chegar em casa.
E continuava ouvindo o rádio, a única mídia massiva que realmente desempenhava um papel importante nessa crise. Eu escrevia e lia no Twitter as informações e, ao mesmo tempo, ouvia o rádio. O meu sentimento era de estar imerso em um ambiente midiático com duas ferramentas complementares e muito similares. O rádio funcionava com uma espécie de Twitter sonoro. E havia remediação: o Twitter falava de coisas que circulavam no radio, embora as estações de rádio não fizessem referência ao Twitter. Elas não estavam mesmo vendo o que se passava no Twitter, desconheciam completamente esse novo ambiente. No rádio, também, as pessoas interagiam, mas indiretamente é verdade, mediadas pelos âncoras dos programas os dos flashes de notícias. Nada dessa cobertura massiva chegava sequer perto da completude e da velocidade do Twitter. Este mostrava-se conversacional, interativo, para usar uma palavra que está saindo da moda, comunitário, local, multimidiático, atento aos contextos e aos interloctures!.
Tivemos hoje um show de mídia alternativa e uma mostra de como os veículos massivos locais estão realmente perdendo o bonde da história. Definitivamente, eles precisam se adaptar à potência da informação bottom-up, aberta e conversacional, funções estas que tenho chamado de “pós-massivas”. Jornais online e as TV locais praticamente ficaram em silêncio. Os jornais impressos só vão falar do caos amanhã mesmo, quando tudo já passou. Agora, as 19h, em casa, vejo as imagens da cidade, com uma sensação de “déjà vu”. Atrasadas, elas me dizem o que eu já sei. Estariam as mídias massivas destinadas a fazer arqueologia do passado imediato?
Para ver o que aconteceu no Twitter busquem as tags #chuva e #salvador. Vejam também o interessante post da Paula Goes sobre o uso do Twitter em Salvador.
Os gigantes da mídia “foram no Tororó beber água e se afogaram!”
Olá, André
Belo post! Jornalista que sou, tive a mesma sensação que vc, hoje – sites e TVs de nada me serviram. As decisões que tomei sobre como me locomover na cidade submersa vieram via interação no Twitter.
Abraços,
Ana F.
Acompanhei tudo pelo twitter, e ia espalhando aqui em casa, gritando para o povo. E me perguntavam, aonde tinha visto essas informações,qdo dizia internet,me perguntavam logo, em que site? Em nenhum site de noticias, no twitter mesmo,meu atual vicio informativo.
Ia lendo o que a galera dizia, e ao mesmo tempo procurando nos sites e nadaaaa! Na tv só passava aqueles filmes antigos e Senhora do Destino, enquanto o destino de várias pessoas iam mudando por conta do diluvio. Não fui fazer uma entrevista, porque o entrevistado mora em Massaranduba e lá estava tudo alagado.
A internet,veio para que todos pudessem colocar a boca no trombone, sem esperar os "gigantes da mídia", se afogarem no Tororó para só no dia seguinte noticiarem algo.
bjos!
muito interessante esse post, André. Aqui em sampa, o pgm de radio local, o cbn sao paulo, ancorado pelo milton jung, trabalha concomitantemente ao twitter. e de vez em qdo, o jung fala do q ele tá lendo no tuiter e tbem dá replies em tempo real.
Oi André, acompanho sempre seu Carnet.
passei por situação parecida final do ano passado, moro em Itajaí, cidade no sul que foi a mais atingida pela enchente. Coincidentemente no final de semana que as águas invadiram a cidade, eu estava em SP, voltando para casa e não consegui entrar em Itajaí, era impossível. Fiquei em Joinville, e minha principal ferramenta para saber notícias e entrar em contato com parentes foi o Twitter. Jornais e TV repetiam notícias, e eram vagos "Centro e bairros próximos começam a inundar" enquanto via blogs e Twitter eu conseguia saber a situação de ruas específicas. Outro fato interessante é que na época o jornal local, a prefeitura e pessoas comuns criaram blogs de emergência, um inclusive alimentado pela população, para registrar e encontrar pessoas desaparecidas e desabrigadas.
http://diarinhonachuva.blogspot.com/
http://prefeituradeitajai.wordpress.com/
http://desabrigadositajai.wordpress.com/
http://allesblau.net/
grande abraço
Samara
@zksk
Pois então; tive ontem, as 9 da manhã, a infeliz idéia de ir ao shop. Iguatemi resolver prendências. Nem consegui chegar. Por volta das dez o Itaigara já estava alagado. Fiquei pelo shopping até as 15h, quando a água baixou e pude voltar pra casa, na Barra. Desci do ônibus que estava, ainda Às 10h e liguei o celular na rádio, que dava informes do trânsito e da chuva na cidade. Por problemas na rede da Oi, n pude tuitar via cel, mas dava informes para minha irmã, que o fez por mim e lia o tweets na minha pg. No fim das contas, ao ver a importância do twitter pro dia de ontem, meu pai disse: essa ferramenta veio pra facilitar a vida de todos. Espero um dia estar em massa. Fiz uma conta pra ele…
Comentei a pouco abordagem semelhante no Herdeiro do Caos, constatando que de fato a emergência e a disponibilidade tecnológica pode fazer um diferencial impressionante nas mãos do cidadão, mesmo sem ser pautado.
Imaginem isso em eventos polêmicos, como votação no Senado e na Câmara, locais que merecem um olhar diferenciado. As desgraças nos unem (!?), mas isso deveria ser levado para outras pautas!
Um dado que dificulta é a informação da Daniela Brown (IDGNOW), quanto ao valor do SMS no Brasil R$ 0,30 cada, um dos mais caros do mundo!
As empresas deveriam facilitar essa tensa e declarada vontade de participar da população!
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@_@?
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Foi, realmente, impressionante a cobertura que os twitteiros de Salvador fizeram. Por se tratar de um problema que atingia diretamente toda a cidade, foi algo realmente muito grande. Em menor grau, todavia, já vínhamos experimentando eventos do tipo, como por exemplo, a cobertura em primeira mão feita do incêndio no Instituto de Química (começada, aliás, por alunos do PETCOM e da Rádio Facom).
O Twitter, inclusive, vem aprimorando essa potencialidade com ferramentas mais específias. O twittergrid (http://tweetgrid.com), por exemplo, atualiza pra gente em tempo real posts com as palavras-chaves que pedirmos.
A única ressalva que eu gostaria de fazer é com relação à questão do rádio. Para mim, a diferença entre a transmissão radiofônica e o Twitter se dá no comprometimento que o Jornalismo tem (ou deveria ter) com a apuração dos fatos antes de publicá-los. Pude perceber ontem, que o Twitter, apesar de ter sido uma ferramenta muito importante, apresentou, algumas vezes, equívocos com relação à veracidade de alguns fatos. Vide exemplo da queda de uma parte do gesso do Iguatemi que, para muitos, foi um piso inteiro, para outros, o teto do Outback, etc.
Acredito na potencialidade do Twitter e dessas novas ferramentas, mas não compartilho tanto da idéia de que o jornalismo poderá passar a “fazer arqueologia do passado imediato”, pelo menos, não por enquanto. Vejo a mídia massiva e os novos meios como complementares uns aos outros.
No mais, achei um ótimo texto.
Abraços.
Egideilson Santana