Sound Cartography
Interessante projeto que propõe mapear os sons de uma cidade, de Los Angeles, mas também de qualquer cidade do mundo, com celulares, GPS e mapas digitais. É o projeto Sonic Cartography: Mapping Los Angeles — and the World — Through Sound do artista alemão baseado em Berlim Udo Noll. Ele criou um site interativo que coleta sons captados por telefones celulares de qualquer lugar do mundo. Vemos aqui mais um projeto que visa buscar um sentido dos lugares, um entendimento do espaço a partir dos sons urbanos.
Sobre o projeto:
“Apogee Maps is an open project about the creation and exploration of public soundscapes. it collects and organizes recordings of daily surroundings and other sonic habitats from all over the world. the sounds are organized within a mashup system of mapping software, databases, telephone networks and the Internet. sites and sounds can also be explored and accessed in situ by recent GPS-enabled mobile devices.”
Este projeto lembra o projeto da BBC, “Save our Sounds” que busca gravar e criar uma memória sonora mundial (embora não seja diretamente locativo) e também o “Define sua Cidade” dos meus alunos de graduação que colocam sons em lugares estratégicos de Salvador por meio de QRCodes (no caso um poema recitado de Gregório de Matos), como já relatados neste Carnet.
“When used in conjunction with Google Maps, the recordings become a sonic portrait of street corners, outdoor markets and public spaces around the world. The seemingly mundane sounds of traffic at the River Thames, kids on the playground in Munich, or maybe men arguing over chess at Union Square then become pieces of art, or possibly artifacts, framed by some unknown person captivated by the beauty of a particular moment.“
“the project reflects on actual changes and developments in mobile computing and so called locative media, which we assume to be crucial to the way we experience our near future daily life, where media and markets will emerge at the precise position of our body. whether and how we can create and keep unoccupied spaces aside from predetermined functions and fictions, is an important question to the project.”
Aliando mobilidade e localização, vemos efetivamente mais um projeto que busca potencializar as mobilidades física e informacional reforçando os vínculos com os lugares das grandes cidades do mundo. Sobre esta temática, escrevi recentemente para palestras no Rio e em Fortaleza (em breve um artigo sobre o tema) que :
“As novas tecnologias móveis e em rede implicam uma ampliação das mobilidades e, pela primeira vez, temos a possibilidade de exercer uma mobilidade física e informacional/virtual ampliada, consumindo, produzindo e distribuindo informação. (…) E para que esta mobilidade ampliada exista é fundamental a criação de uma interface entre o espaço eletrônico e o espaço físico – que chamei em outros textos de território informacional e que outros chama de internet das coisas, espaço intersticial, híbrido, cíbrido, espaço aumentado… A mobilidade ampliada, tirando proveito ao mesmo tempo da mobilidade física e da mobilidade informacional, é dependente desta nova “interface” entre o espaço eletrônico e o lugar físico. Esta interface cria viscosidades, atração, aderência a determinados lugares, diminuição do movimento físico ao colar em determinadas zonas (hotspots, 3G, bluetooth, RFID) para a ampliação do movimento informacional (Shirvanee). (…) Pensar mobilidade é pensar a nossa relação com o lugar. Toda a nossa experiência está fundada em lugares e por mais que as novas tecnologias sejam sofisticadas e permitam ações a distância, a nossa experiência é sempre locativa, fundada em um pertencimento local fluido e mutável. As mídias de massa tensionaram e criaram sentido de lugar. A nossa percepção do mundo e de nós mesmos se dá, na modernidade, pela nossa relação com o outro e com a imagem que esse outro cria de nós. Vendo TV, cinema ou fotografias, consumimos imagens do outro distante e criamos um sentido do nosso lugar no mundo e deste outro que está longe de mim. Está aí a tese de Mead sobre os “significant others”. As mídias de massa expandiram a nossa compreensão sobre o mundo e sobre este outro genérico. Por isso Meyrowitz afirma que as mídias funcionariam como “global positioning systems” mentais. Mesmo globais a recepção é sempre local, enraizada. Da mesmo forma, as mídias eletrônico-digitais, globais e telemáticas, não aniquilam o espaço-tempo, não criam um “no sense of place”. A nova mobilidade informacional, cria “new sense of places” e “new sense of selves”. Nosso pertencimento ao espaço de lugar continua, embora possamos manter relações comunitárias em qualquer lugar e com qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo.”