Paysages Ephemeres

Paysages Ephemeres

Quanto mais estudo as mídias locativas, mais me interesso (e estou atento) pelo/ao uso das ruas, com ou sem dispositivos eletrônicos. Evento em Montreal, Paysages Éphémères, propõe um uso temporário da rua através de diversas ações: performances, instalações, mobiliário urbano, micro-esculturas…Nada de tecnologias digitais, mas apropriação e uso das ruas buscando modificar a paisagem urbana. O cenário é a avenida do Mont Royal, no Plateau, onde as obras, sem nenhuma publicidade, criam pequenos estranhamentos, pequenas hierofanias no quotidiano. Os passantes páram, olham, fotografam, e se perguntam sobre a finalidade daquilo. O lugar vivido e praticado ganha assim uma nova coloração.

Sobre o uso temporário das ruas, indico a leitura do interessante livro “Temporary Urban Spaces” (Hayden, Florian, Temel, Robert. ed., Basel, Birkhäuser 2006), que apresenta vários projetos artísticos que tomam o espaço urbano para explorações efêmeras. Os autores afirmam: “Uses is, in any case, not a quality that is inscribed in things, buildings or spaces but rather social relationship in the triangle of property, possession and right to use. In that sense, use is a more or less flexible relationship within which people can make various uses of one and the same thing or, expressed more generally, can relate to this thing in different ways – and thus pursue different interests” (p. 26-27)

E sobre as paisagens urbanas, deixo uma citação do “A invenção da paisagem”, de Anne Coquelin ( Martim Fontes, SP, 2007), já reproduzida em outro momento nesse blog (um pouco de redundância nunca é demais!): “(…) emolduramos, fazemos da cidade paisagem pela janela que interpomos entre sua forma e nós. Numerosas vedute, uma esquina de rua, uma janela, um balcão avançado, a perspectiva de uma avenida. O prospecto aqui é permanente. A cidade participa da própria forma perspectivista que produziu a paisagem. Ela é, por sua origem, natureza em forma de paisagem. (…) a paisagem urbana é mais nitidamente paisagem que a paisagem agreste e natural…sua construção é mais marcada, mais constante, ainda mais coagente. Ali tudo é moldura e enquadramento, jogos de sombra e de luz, clareira de encruzilhadas e sendas tortuosas, avenidas do olhar e desregramento dos sentidos”. (p. 150).

Algumas obras do Paysage Ephémères 2008:


O lugar das bikes, como os exclusivos para carros, do coletivo UTOPIE Paysages


Recliclar a cidade, do coletivo Vert Pétant.


Micros “menires” displiscentemente colocados na rua, dos membros do SYN – atelier d’exploration urbaine.

O crédito das fotos das obras é Denis Farley et Stéphane Bertrand.

One Reply to “Paysages Ephemeres”

Os comentários estão fechados.