Nomadic Future?
O semanário “The Economist” traz essa semana um relatório especial sobre mobilidade. Todas as matérias têm como argumento central a atualização de uma velha idéia: nomadismo. Os artigos estão disponíveis no link Mobile telecommunications. Notamos aqui como um veículo sério e prestigioso como o The Economist, dedica atenção e esse fenômeno emergente (que estamos tratando diariamente aqui no Carnet) servindo como um excelente veículo informativo para o grande público que só vê a ponta do iceberg.
Os artigos tratam de temas como o trabalho, as novas configurações dos espaços e lugares, a “nova” subjetividade, o potencial político dos celulares, os sistemas de localização e monitoramento do ambiente urbano, entre outros. O relatório pinta um guadro bastante positivo (sem esquecer os problemas como vigilância, estresse, velocidade e excesso de informação…) da era da conexão sem fio. Há depoimentos de Castells, Mitchell, Turkle, Katz, entre outros.
A metáfora do nomadismo é interessante mas deve ser empregada com cuidado. Enquanto o nomade é aquele que passa pelos pontos, que busca o que está entre eles (Deleuze), os novos “nomades high-tech”, criam territorializações em meio a seus movimentos no espaço urbano, e mesmo juntos em cafés, praças ou outros hotspots, interagem muito pouco entre eles. Em relação a isso é interessante a comparação com os existencialistas franceses que dos cafés viam o mundo lá fora e também não interagiam com que estava ao seu lado. No artigo sobre The New Oases podemos ler:
“Most nomads are very open to this sort of thing. Technology aside, there is not such a big difference between a geek with earphones and a laptop today and a Paris existentialist watching the world go by at the café Les Deux Magots in the 1950s. The first might be simultaneously instant-messaging, listening to music and e-mailing, the other puffing a Gitane and jotting down notes about being and nothingness. But as soon as an attractive new customer breezes in, both will instantaneously realign their focus of interest.”
Sobre nomadismo escrevia em um artigos recentes e um post de março de 2007:
“Beduínos são povos nômades originários da península arábica e que vagam hoje pela África do norte. São nômades, mas possuem um território, já que, como diz Deleuze, eles seguem trajetos costumeiros, passando de ponto a ponto (por exemplo uma fonte de água). Mas os pontos só existem para serem abandonados e o que vale é o que está entre os pontos. Por isso Deleuze diz que a vida do nômade é o intermezzo.
Em São Francisco novos nômades, os Beduínos High-Tech, surgem, buscando passar de ponto a ponto, mas agora o ponto de parada não é a fonte de água, mas o coffee shop e sua zona de conexão sem fio ao ciberespaço, os novos territórios informacionais. O território do Beduíno high-tech não é o deserto, mas o território informacional criado pela intersecção do espaço físico com o ciberespaço nas metrópoles contemporâneas. Agora eles trabalham e vivem de café em café, de conexão wireless a conexão wireless…
No entanto, diferente do Beduíno árabe verdadeiramente móvel, o seu novo ciber-irmão, munido de tecnologias sem fio como laptops Wi-Fi e smart phones, parece mais sedentário do que nômade. O seu objetivo não é o intermezzo, o que fica entre os pontos, não é abandonar os lugares, mas buscar o ponto em si, com seu território informacional de onde ele se conecta à rede. Fisicamente ele quer o ponto para, eletronicamente, poder passear pelo ciberespaço (principalmente pelas ferramentas da web 2.0). Embora mais móvel do que o internauta preso a cabos e fios, os Beduínos high-tech da era da mobilidade digital ainda estão presos aos seus pontos de conexão e, talvez, só em um futuro próximo, eles possam, efetivamente, se liberar e vagar, conectados, entre os pontos, por um efetivo “intermezzo eletrônico”.