…e hoje, depois de um dia daqueles, vou entrando no carro para voltar para casa quando o celular toca e é uma jornalista do Correio Brasiliense (sorry, esqueci o nome!) querendo um depoimento meu sobre a morte de Jean Baudrillard…passeio o dia em aulas e grupos de pesquisa e não sabia de nada…fiquei alguns segundos perplexo com a morte desse que foi uma das mais brilhantes cabeças da era contemporânea. Tomei um susto, senti o baque e tentei responder as suas perguntas…mas não me lembro de nada…
Tive o privilégio de conhecer Jean Baudrillard e pudemos conversar quando da sua exposição sobre o virtual no Grupo de Pesquisa sobre a Técnica e o Quotidiano GRETECH que criei no CEAQ/Sorbonne em 1992. Não me lembro do ano, mas deve ter sido, 93 ou 94…pouco importa agora…
Naquela ocasião, pude perceber que as críticas ao seu pensamento eram na realidade uma má compreensão de sua ironia, da sua forma circular de tratar os fenômenos e compreendi, depois de vê-lo falar (já o tinha lido, mas vê-lo falar para nós, um pequeno grupo de pesquisadores em doutoramento, foi esclarecedor…não foi uma conferência, mas um bate papo), que tudo o que ele escrevia (não nas suas obras mais formais, como “O sistema dos objetos”, “a sociedade de consumo”, ou a “critica da economia política do signo”, mas no seus ensaios dos últimos anos) era uma espécie de provocação. Depois tomamos um café juntos no L’Escolier, na Place de la Sorbonne.
Desde os anos 60 ele já agitava Nanterre e ajudou o movimento estudantil de maio de 68 na França. Depois, vai realizar uma critica “pós-moderna” dos meios de comunicação, da sociedade de consumo, da América, dos simulacros, do virtual, da guerra (principalmente a do Golfo, que ele afirmava em 91 que ela não tinha acontecido…e, pensando na situação de hoje, onde nada mudou realmente, parece que ele tem razão). Foi fotografo e poeta e escreveu mais de 50 livros. Para mais sobre o sociólogo e filósofo veja esse link do Monde, que o chama de “desilusionista”. Essa parece ser mesmo uma boa palavra para defini-lo.
E agora???
Sem o raciocínio cada vez mais poético e sensível, colado ao mundo da vida, quem irá nos ajudar a denunciar as estratégias dos criadores de simulacros e do hiper-real? quem vai nos acordar dos delírios do virtual? quem vai apontar as ilusões desse mundo que se quer cada vez mais real, objetivo, numerizável? Quem vai nos indicar que pílula tomar?
Sem Baudrillard o real ficou bem mais desértico!
Curioso é notar que a perda do capital especulativo (bolsa de Xangai) é mais alardeada nos meios que essa simbólica perda de capital humano, se assim pode-se definir.
Tão ou mais inquietante quanto a de Debord e a de Deleuze, um ano depois, nas circunstâncias que já sabemos.
Compartilho de sua indignação Ian, no país em que vivemos a cultura em sua forma mais acadêmica não tem valor. Dos 190 milhões de Brasileiros, acredito que menos de 1 milhão saiba quem era Baudrillard, e um numero infinitamente menor de quem conheca o seu trabalho.
Vivemos perdendo cerebros, Doutores, Pesquisadores dente outros especialistas Brasileiros são absorvidos pelo exterior.
Obviamente sabemos que o gap intelectual do país é enorme e que até chegar a nos considerarem uma sociedade culta ainda tem um longo caminho.
Nos resta lutar Quixotescamente em prol da Cultorização da sociedade Pocotó…