Falling Man
Estou lendo o novo livro de Don DeLillo, “Falling Man” (NY, Scribner, 2007), sobre os acontecimentos do 11 de setembro. É interessante como o livro parte de uma foto, que vira um história publicada em uma revista, que se desdobra em documentário e que é agora personalizada em um artista-performer fictício homônimo criado por DeLillo. Recursividade multimidiática: Fato – Foto – Ensaio para revista – Filme documentário TV – Romance. Será possível assim digerir o acontecimento?
Explico.
Inicialemente “Falling Man” é o título de um ensaio publicado na revista Esquire a partir da fotografia de Richard Drew, tirada em 11 de setembro as 9:45. A foto (acima) foi considerada chocante, voyeristica e, posteriormente, boicotada pela imprensa americana. Essa imagem, e o ensaio da Esquire, deram origem a um documentário para a TV, o “9/11: The Falling Man” Henry Singer (2006).
Agora, Don DeLillo vai adiante e desdobra o imaginário em seu novo romance. Ele cria o artista performático “Falling Man”, que se pendura de cabeça para baixo nas ruas de Manhattan para chamar a atenção sobre as pessoas que se atiraram das torres em chamas:
“She’d heard of him, a performance artist known as Falling Man. He’d appeared several times in the last week, unannounced, in various parts of the city, suspended from one or another structure, always upside down, wearing a suit, a tie and dress shoes…” (p. 33)
Esse é o primeiro romance que leio sobre o 9/11 (li o Brooklyn Follies, de Paul Auster, que toca no assunto, mas não de forma tão direta quanto o DeLillo). DeLillo cria uma personagem que simboliza a vertigem desse início de século e de milênio sob o signo do desmoronamento, do terrorismo global e do medo do futuro. Ele cria um curto cirtuito entre os fatos e as diversas modalidades midiáticas que representam/produzem o real (o fato, a TV, a foto, o ensaio, o documentario, o romance) para, quem sabem, fornecer releituras da realidade que possam criar sentido. Em “Falling Man” estamos no centro dos acontecimentos, em meio a poeiras e fumaças que não nos deixam ver claramente o futuro.
“- What is next? Don’t you ask yourself? Not only next month. Years to come.
– Nothing is next. There is no next. This was next. Eight years ago they planted a bomb in one of the towers. Nobody said what’s next. This was next. The time to be afraid is when there’s no reason to be afraid. Too late now”
(Falling Man, Don DeLillo)
oi André, o Don De Lillo é muito bom em pegar fatos do cotidiano e transformar em romance. Vou procurar esse. bjos