Entrevista concedida ao Jornal Diário Catarinense, publicada hoje. Como sempre falamos muito mais do que é aproveitado, publico abaixo a entrevista na íntegra (enviada por e-mail e respondida do mesmo jeito):
DC – Em época de eleições, as redes sociais viram palco de debates partidários. Há um limite para os posts dos eleitores?
AL – Os limites da civilidade. Estamos em uma arena pública virtual, um espaço público, portanto. As redes sociais são lugar de conversação e de troca de impressões sobre os mais diversos assuntos da vida social. Mas cada uma delas tem suas particularidades. Gostaria de apontar mais para esse ponto do que pelo comportamento individual. A questão é que cada sistema tem seus próprios algoritmos e lógicas e isso não é neutro, sem consequências. As mídias massivas servem o público de acordo com sua conotação política e interesses, mais ou menos ancorado na ética profissional. O público recebe e deve buscar colorações diferentes para não ser vítima de uma única rede de notícias de massa. Com as mídias digitais é diferente. O usuário faz o seu “menu”, se posso usar essa metáfora. O Facebook estimula o “curtir”, o compartilhamento e a escrita mais longa. O sistema monitora aquilo que você curte e te indica coisas próximas ao seu gosto. Assim, temos que ter consciência de que aquilo que curtimos é um disparador daquilo que veremos, fazemos, e muitos não sabem, uma espécie de curadoria sobre o que vai aparecer depois. O Twitter é mais focado pois os usuários escrevem em poucos caracteres, escolhem quem seguir, podendo, se quiserem ter realmente uma posição política mais clara, com candidatos de diversas matizes políticas aparecendo na “timeline”. Não dá para escrever no Twitter, mas para fazer comentários rápidos, replicar infos de fontes de informações institucionais e dos próprios políticos. Já o Instagram é para fotos e tem uma apelo imagético, portanto. Assim, quando falamos de mídias sociais, temos que ter em mente as suas diferenças em termos de lógica dos algoritmos, que implicam em balizas das formas sociais.
DC – Há uma regra de comportamento mesmo nas redes sociais ou por ser um ambiente democrático permite tudo?
AL – As regras estão ligadas ao condicionamento dos próprios sistemas, como disse acima. Há uma “affordance” específica para cada rede social, o que ele permite, indica e propõe, sendo que o usuário pode se apropriar também e usar “do seu jeito”. A materialidade do dispositivo influencia a maneira com as informações são recebidas, as formas de relação com o outro e, portanto, a sua visão sobre um determinado tema, seja ele político ou não.
DC – Quais dicas o senhor daria para aqueles que gostam de discutir política em posts e comentários? Há uma “etiqueta” a seguir?
AL – Conhecer a materialidade dos dispositivos, entender a “política” que está por trás dos algoritmos, compreender que ao entrarmos nestes sistemas, as consequências não são de domínio apenas de quem fala e ouve, mas dos próprios sistemas que falam e ouvem por você também. Estou reforçando aqui mais a política das redes sociais do que o uso individual, pessoal da política pelas redes sociais. No entanto, como pode perceber, uma coisa está ligada à outra.
DC – Por que temos a impressão que nas redes sociais as pessoas têm coragem de falar tudo que muitas vezes não teriam pessoalmente? Isso acontece? O ambiente virtual torna as pessoas mais “corajosas” ou até mesmo que percam o respeito pelos demais?
AL – Muitos preferem escrever do que falar. As redes sociais estimulam as pessoas que gostam mais deste tipo de relação. Se as pessoas se sentem bem para discutir política mais desta forma do que de outra, não vejo problemas. Perder o respeito já leva a discussão para outro patamar. Esta não é uma questão importante.
DC – É importante a interação dos candidatos com os eleitores? Por quê?
AL – É a única forma que eles têm de ter voto, se elegerem. Eles são obrigados a isso. Uns fazem por vocação e interesse na coisa pública, outros por interesse pessoal. Muitos usam sempre as redes sociais, outros só em época de eleição.
DC – As redes sociais podem ter o poder de mudar ou influenciar nos resultados das eleições?
AL – Sim, como expliquei acima, ao indicar o que as pessoas mais gostam. Por exemplo, o Facebook pode dirigir o interesse de um grande número de pessoas para um assunto e influenciar uma votação sobre ele. Recentemente o Facebook fez uma experiência com as pessoas sobre como eles curtem determinados assuntos e induziam a curtir coisas. Isso pode ser usado para mudar o resultado de uma eleição. O algoritmo não é neutro.