Hoje fui convidado para falar sobre e-books e a leitura na era do digital em um evento em Porto Alegre esse ano em data a ser definida ainda. Agora, lendo meus feeds, me deparo com essa charge abaixo que aponta para um futuro próximo do dispositivo livro.
Uma rápido comentário sobre livros e e-books. A história mostra que “livro” é qualquer suporte para a escrita e que esse dispositivo mnemônico evoluiu muito nos últimos milênios. Primeiro eram tabuletas de argila ou pedra, depois o vólumen com os papiros e pergaminhos, depois o códex medieval, que canonizou o formato que conhecemos hoje e que fez com que esse suporte fosse identificado com o “livro” . Em seguida, justamente, começa o questionamento sobre o fim do livro pela desmaterialização desse tipo de suporte (o códex) com a tela dos computadores, seus hipertextos e agora os e-books e “tablets” (vejam que voltamos à idéia original de “tabuletas”).
No fundo o debate sobre o fim do livro é ao meu ver uma falsa questão. Se “livro” é um suporte para a escrita ele pode ser uma “tabuleta” eletrônica ou um e-book como o Kindle. Acredito que a ideia de livro não deva ser aprisionada em uma forma única de fixação de informação escrita como o códex.
Estamos caminhando em direção à desmaterialização do suporte, mas não ao fim da leitura. Os suportes mudam sem implicar o fim do seu conteúdo, a escrita, ou de sua prática, a leitura. A história do “livro” mostra justamente isso: da tabuleta, passando pelo papirus, pergaminho, códex, hipertextos e agora e-books, o conteúdo só aumentou em volume e qualidade (o uso da escrita para contar histórias, ciência, filosofia ou fazer contratos e leis), assim como sua prática (a leitura) foi democratizada e se extendeu à toda a humanidade (a luta pela alfabetização é uma prova disso e ler e escrever se tornaram direitos universais).
Mesmo que o suporte desapareça completamente e nossos filhos ou netos perguntem “o que é livro?”, a prática da leitura e o uso da escrita só vão aumentar. Pouco importa o suporte.